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FERNANDO RUSSE LL CORTEZ
fl5pecto5 do neolitico de Portugal
Por es tas regiões do centro de Portuga l, 00 clima húmido e fri o
da é poca glaciar, deve ter sucedido um clima seco, e ecol6gica mente estepório. Então, o fl ora permite o desenvolvimento duma
fauna herbívoro de corredores. Aparecem os populações dos caça dores, flore sce uma arte pictórica, relacionada com os totens, do
qual siio sobrevivência as pic tografias da Queiriga. O Beirflo seria
en tão, um con tinental o percorrer, qual nómada, os pradarias, os
chiios dos vales, perseguindo os manadas dos bois, dos porcos, de
cavalos e de veados.
Depois, em novos têmporas, sucedem grandes mudanças climól icas. A aridez va i progredindo por extensas regiões 5ub- tropicois
e os civi1izaçi'les estepórias desenvolvidas nestas regiões do Asia
Centra l e do Sahára, entram em conflito com o meio ambien te e
iniciam -se grandes migrações. A Humanidade vê-se en tiía compelido poro a Mar, embora niia esteja o ele habi tuado e ainda o niio
sa iba dominar. A medido que estas condições climóticas se viio
acen tuando, nos bordos Oceônicos do Europa, disfrutor-se-ia um
cl ima moderado e húmido, condicionado às influências do GulfStream e da Zona Ciclónico do Islônd ia . Os bosques de árvores de
folho caduco, progridem nos estepes paleolít icos. Numerosos espécies arborescentes refugiados no região mediterróneo remonta m
novamen te paro O Setentriiio.
Estos modificações climáticos provocam entna importantes mi grações humanos que, convergindo no sen tido do Mediterrâneo,
formariam uma mesclo de homens e ideias, logo disseminados o tra _ 81 _
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vés dos suas margens, levando no seu deambulor, o produto do suo
experiência, das suas invenções.
Entre os novidades apontadas sobressaem novos técnicos, que
generalizados, haviam de permitir que o homem resis ti sse melhor
oos contrastes climóticos.
Aprendem o conhecer melhor, e o aproveitor os trutos daquelas plantas que maiores reservas a limentares continham. Iniciam o
agricultura pelo selecção das semen tes. Ao mesmo tempo generoliso-se o domesticoçfio de animais, nomadizando-os, progressivamen te, com o homem . Utilizam, em largo esco lo, o plasticidade do
argi la, descobrem o olaria; julgo que esta técnica foi descoberta
simu ltâneamente em diversos (incões, ou então pelos po leoli los 50horionos.
Toda esta humanidade, repelida pelos estepes em vias de desertificaçua, trazia consigo núa só as frutos da suo experiência, do
luto rude contra o aridez, como múltiplos apeirias agricalas : vórios
sistemas de cultivo, diversos técnicos de canst rucçiia, desde o aparelho do pedro o seco, até à cabana fruste de peles ou de romaria
entrançado e borrada.
Tinhamos chegado aos tempos ditos neolíticos,
uma humanidade, meio nómada, meio sedentória.
°
Os caçadores transformam-se em postares, os recole tores em
agricu ltores.
Os neolitas ganadeiros e ogricultares, de economia matriarcal ,
sociedade onde o mulher tinha preponderância, no sua expansi'ia
através dos margens da Mediterrâ neo atingiram bem cedo faixo
Atlôn t ico do Penínsu la, como os camadas neolíticos de Muge, dos
Areias Altos, do Castro de Figueiró do Gran ja, o comprovam . Integraram -se entre o popu laç:'io local que continuava o ut ilizar os seus
micrólitos nos pavis do Tejo, nos margens do Mondego ou os picos
e raspadores do orla litoral do Noroes te Peninsular.
°
°
Poro
saluçlio deste apaixonante problema do t ra nsiçiio do
Mesolíti co 00 Neolí tica, nenhuma estaçiio como os concheiros de
Muge pode fornecer melhores elementos, maiores possibilidades de
avoliaç:io, em especial sobre o, ou niio, exis tência de influências
africanos nos populações de caçadores jo seden tarizados que ocu pavam o Penínsu la desde o Paleolítico superior até 00 Neolíti co.
As conclusões que têm sido tirados do estudo dos indústrias de
Muge siio variados. Hugo Obermaier, de acordo con Breuil, inclui os no epipoleolitico, falo -nos do Capsense ou da Capso-Tardenoi
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siense. Mendes Corrêa mostro depQis, o existência de diferenças entre os vários cancheiros, en tre os vá rios locais de habitação destas
populações ribeirinhos do Te jo, que muito devem ter perdurado .
Ha concheiras que devem te r sido contemporâneos e abrangeram culturalmen te varias vidas do homem post-quoternário, continuando este o util izar uma indústria lítico no qua l os m icrólitos
vila logrando um emprêgo sempre crescente.
O concheiro melhor conhecido é o da Amoreira . Reve lou -nos
uma indústria que, paro Mendes Corrêa, Breuil e Obermaier, refl ete uma acentuado influêncio capsense nos seus t riôngulos. T ipol6gicomen t e encon t ramos no Cabeço da Amoreira, lóminas finos, de
dorso rebatido, os crescentes, os triângu los e os trapézios silo ma is
raros ( I ).
Outros concheiros, como O Cabeço dos Morros (2), fornecem láminas retocados e t rapézios cu jo t ipologia perdurou a t é 00 Neolítico.
Igualmente poro Bosch Gimpera (3) os negroides de Muge seriam originarias do mesmo foco de que resu ltaram os homens do
Neolítico africano de tradiç:10 capsense, em que também se encontro, um duplo elemento dolicocéfa lo e braquicéfalo.
A suposição do perdu ração do povoamento do região de Muge
no de albar dos tempos Neolíticos não é gra tui to, a ntes é con f irmada pelo aparecimento no Cabeço do Amoreira de um bem conservado vaso hem isférico, sem ornamentoçi"to que jun to o muitos
ou tros restos cerómicos nos mostro o ocupação tordia dos conchei ros (f ig . l) (4).
Ao considerar em 1934 olguns novos elementos cronológicos
ob tidos no decu rso das excavoções dos concheiros de Muge, Mendes
Corrêa, refere o Cabeço do Amoreiro e ensina: "Apareceram al guns frag mentas cer6micos, mas que, se~ dúvida, se podem con siderar provenientes de intrusões u lteriores, são, porem, de notar,
(1)
A. A. MENDES CORREA: "Novos estoçoes Fticas em Mugem", 1 Congresso do Mundo Português, Lisboo, 1940.
(2) A. DO PAÇO: "Novos concheirQS do va le do Teia" , in Brotér io, volumen
XXVIII, fase, I, Lisboa, 193B.
A. A. MENDES CORREA: Op. cit. in noto'.
M. ALMAGRO BASCH : "Los problemas dei Epipoleolílico v Mesolílico en Espono", Ampurias VI, Barcelona, 1944, pág. 2.
(3) p, BOSCH GIMPERA: "EI mesolitico europeo", Ciençja, VII , Méxi co,
1946, pág. 301.
('I) A re
Athoyde, do Instituto de Antropologia da Universidade do Porto.
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um vaso grossei ro, sem decoraçiio, de fabrico manual (fig. 1, nÚm.
I), com aspec to neolítico, e dois fragmen tos con mamilos perfura dos (f ig . 1, núm . 2), possivelmente tombem subsequentes ao Me-
.- ---
------ -
- - -- - - -
Fig . 1 IT. n)
salitico. E imprudente cons ide ro- los, sem hesitação, da camada
arqueológico mesolíti ca. Nes ta abundam apenas pedaços in formes
de borro moi cosido" (5) .
(51 A. A. MEN DES CORREA: "Novos elemen tos poro o cronologia dos concheiros de Muge", Anais do Foc ultode de Ciências do Por lO, XVII I, Por lO, 1934.
pâgi no 7.
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ASPECTOS DO NEOLlTICO DE PORTUGAL
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Vemos pelo douto opinião, acabado de transcrever, que as habitantes dos cancheiras de Muge já conheciam a utilizoçiia do plasticidade do argi la, largamente utilizada na revestimento das empalissadas, das empenas, das lareiras, das choças que lhes serviam
de moradio.
Talvez nÍlo se passa perfilhar a apiniiia de que o vaso cerâmico
encontrado resultasse duma intrusão, ocasional e posterior, uma
vez que os es tratos não apresentavam sinais de revolvimento, não
é defensóvel a progressão do vaso devido ô acção da gravidade, todos os fragmentos es tavam juntos in situ (Ióm. I, 1l. Se o vaso
fosse posterior Ô constituição do respectivo horizonte arqueol6gico
do concheiro, igualmente feriamos de considerar como posteriores
alguns crâneos que foram recolhidos no suo imedia ta proximidade .
Poderiamos supor o existência, com tais testemunhos, como por
outros razões a afirmou Breuil e, subsequentemente, Obermaier
(6), duma etapa prato-neolítica poro o final da ocupação humano
que os rebotalhos de Muge representam. No entanto melhor ser6
valorizar as achados cerâmicos, esperando que ulteriores investiga ções nos concheiros nos tragam, melhores e mais numerosos, informes poro O estabelecimento duma cronologia relativa entre os vorios concheiros e a possibilidade de si tuar mais exactamente o doto
do abandono daqueles lugares.
E minha impresstlo de que a terminus do occupação humana
dos concheiros de Muge deve es tar ligada com a chegado dos gen tes portadoras do machado cilíndrico, domesticadora do cerdo e
duma agricultura aperfeiçoado. "A descoberta no Cabeço da Amoreira, de covas, abertos na areia estéril da base e cheios de conchas (mu itos por abrir), carvões, espinhas de peixe, etc . evoca a
ideia de depós itos de provisões, como os s ilos da a ldeia de EI Garcei, explorado por Sire t. Mas estes eram maiores e mais complicados e a estação de EI Gorcel, embora tardenoisiense e com uma
utens il agem microlítica, possuia já pedra polida, que nua existe em
Muge" (7) .
Aparece-nos portanto de misturo com uma indústria microlíti ca, de fócie s tardenoisense, um vaso cerâmica manual, cozido ao
sol, de fundo hemisférico, e muitos outros fragmentos de argi la,
(6 1 H. OBERM AIER : " EI hombre 165il", Memor io núm. 6 de lo Comlsión de
Inve$Ilgoclones Poleont ológicas y PreniSlôrlcos, 2.- ed ici6n, Modrid, 1925, pógi no 395.
m A. A. MENDES CORREA: Cp. c it o in /'1010 5, póg. 5.
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seco ou endurecida 00 sol e 00 fogo que parece ter servido para
proteger, revest indo, os paredes feitas de restos vegetais. Foi ta mbém encontrado uma col he r de cabo curto, feito no mesmo borro
do 'leso hem isférico a t roz descrito, semelhante o ou t ros encontrados nos An tas do Beiro Alto e do Alente jo Orien tal (fig. 1, núm. 3) .
~ com poravel ó q ue foi encon trado e m Los Penas de los Gi tanos
(Mon t efrío, Granada) e hoje se encon t ro no Museu de Granado (8).
A colhe r aparece igua lmen te na Anta do Rio Torto, Bei ro A lto,
num espólio essencialmen t e neolít ico (9). Aparece igua lmen te nos
silos de Campo Real, no Andolucio ( 10).
A colhe r de cabo curto é t ípica do Neolít ico Ibérico e do oeste
do Europa, fi gurando en t re os ob jectos que o ligo ós cu lturas neolítica s mais a ntigos do Va le do Nilo (I I ).
Para Gordon Chi lde (1 2) o civilizaç:io Tardenoisense, é tes tem unhado pelo aparecimen to de silices pigmeus, ou m icrólitos en genhosamen te tal hados segundo formos geomé t ricos regulares,
u tilizados por populações que acam pavam exclusivamente em terrenos arenosos ( 13 ), em parte consolidados e revest idos de mo to
(14), obrigando-se em cabanas construídos de vimes ou romar ia revest ido de borro, e nterrados parcialmen te no solo. Deste revest imento apareceram inúmeros testem unhos no excavaçlia dos can-
(8) J. EGUARAS IBANEZ: "Musl!O Arqueológ ico de Gronado. I, De lo Memorio", Memorios de los Museos Arqueológicos Provinc:loles, 1941 (Extrcx:tosl, Vol.
VIII, Modrid, 1948, pâg. 127, est. XXXVII, 9.
(9) MU5eu Etnológico de Belém, num. 9.2BB.
(101 G. e V. LE ISNER: " Oie Megolithgrober der lberlschen Holbln5el: Der SÜ_
den", Bond 17, Remisch-Germonische Forschungen, Berlin, 19'1;, e$!. 102, A,
13_2.
J. SAN VALERO APARISI; "Lo Penínsulo Hi$pÓni co en el murn;lo neolitlco".
Noto num. 3 do Seminorio de His torio Primitivo dei Hombre, Modrid, 194B, p6gino 31.
J . DECHELETTE; "Monuel d'Archéologie", I, Porls, 1924, p6g. 555, lig. 202,
1-5.
J. PHILIPPE; "Cinq onnées de foumes ou Fort Horrouord", Rouen , 192"1 , MI.
XXVI, 1, 3, 6, 13.
O. MENGHtN: "Et origen dei puebl0 dei ontiguo Egipto", Ampurtos, IV,
Barcelona, 1942, págs. 25-41 , est. VI.
(111 G. e V. LEISNER: "Antos do Conce lho de Reguengos de Monsoroz. Mote riois poro o estudo do culturo megolitico em Portugal". Institulo poro o AliO
Culturo, Lisboa, 1951 , pág. 100.
(121 v. G. CH ILDE: "L'oube de lo civilisolion européenne", 4 .- edic., Poris,
1949, p6g. 24 .
(13) J . G. D. CLARK; "Tne Mesolilhic Selllemenl 01 Nortnern Eu rope", Combridge Uni,,~s i ly Preu, 1936, pâgs. 190-194 .
(141 V. G. CH ILDE: Cp. eH. ln note 12, pago 24.
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cheiros de Muge, constitu idos por argila endurecido, com moldagens de vegetais incorporados na posta.
O Tardenoisense teria a sua origem no recuo para o setentriiio
no f im da época glaciário, de emigrantes afugentados pela dessecaçiio do Sahóro. Conservariam a sua forma de viver primitivo; nos
seus instrumentos perduraria a t radição microlíti ca, embora no sua
visinhonço existissem populações com uma econom ia de caracter
neol itico, onde se conhecia jó o técnica do produção de alimen tos.
O aparecimen to de vasos cerômicos neolíticos, em Muge o nas
Areias Altas, Porto, num meio indus trial de caracter Mesolítico ou
Asturiense niio é ca so úni co. Podemos encontrar inúm eros paralelos em 5auveterre (Lot -e t-Goronne) foram encon trados mi crólitos tardenoisenses associados com cerâm icas, decoradas com os
dedos, e, pontos de flecho (IS ).
Certos tipos tardenoisenses - t rapézios e crescentes- de uso
corrente entre estas popu lações do Peninsula Hispânica, da França
e da Rússia Meridional, podem denotar a absorção dos caçadores
desta época petas popu lações produ toras de. alimen tas. O micrólito
niio deve pois ser tomado como si nónimo de Mesolíti co (16) .
Consequentemente e 00 que parece, uma pa rte dos estra tos de
Muge, com os seus leitos de pouca regularidade, ou dispostos em
camadas discordantes, estiio já ma t izados com elementos de Neolítico, chegados dos zonas costeiros da Mediterrônea, com cerômi ca; comporor o vaso e dema is indústrias com os materiais da Càva
de lo Rabosa ou dos Melones de la Vall torta (Albocócer, Costellón)
( 17) .
Este achado de restos cerâmicos em Muge vem esclarecer o
época transitivo Mesoli t ico- Nealítico no Península, confirmando
os elementos entrevistos no excovaçiio do Cueva de 10 Cocina (Dos
Aguos, Valência ). onde o seu nivel I (18) forne ceu cerômica fei to
à miia, geralmente muito tosco, de pasto ma l preparada e de cocçiio defeituoso e que pelo seu espólio foí incluído na Neolítico
inicia l, no entonto, culturalmente mais rico que o de Muge; aquí
nlio foi encontrado qualquer instrumento litico polido. Nes ta gru ta
{151 L. COULONGES: "Les Gisements prêhistOf;ques de Souveterre- Ia- Léma nce {Lol-et-Ga,annel", Archives de l' Ins titul de Palêonla logle Humoine Mémoire
14, Por;$, 1935, pOg. 25.
'
( 151 v. G. CH 1LDE: Cp. ci to ln nOla 12, póg. 25.
(17) M. ALMAGRO: Cp. ci l. in nola 2, pog. IS, / Ig. 11.
( 18) l. PERICOT GA RCI A : " La cueva de la Coci na (Dos Aguo$ ). Na ta prelimino''', Archiva de Prehisrarla Leva n tina, II , 1945, Valencia, 1946, póg. 39-71 .
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aparecem tombém pontos con pedúnculo lateral to l qual no Cc·
beço do Amoreira e no Cabeço dos Morros.
Segundo Pericot: uEI paralelo con Muge es tentador . Pera lo
cronologia de SU5 concheros es difícil. En este momento diremos
5610 que coso de oceptorse el paralelo, el Cobeza de Amoreira seria el equivalente de nuestro5 niveles media y superior" (19) . Confirma -se assim que os começos do Neolítico transcorrem no Penín su la, dentro dum mundo mesolitico de pequenos caçadores, o qual
perduro no instrumenta l que continuará cons t ituindo a base indus t riai em que se apoia o Neolítico, durante larguíssimos anos (20) .
O Neolítico inicia l de Muge seria pois representado por cerômico grossei ra, fei to à mão, sem ornamentação, ut ilizando como
material plóstico o barro impuro loca l. Nua aparecem mu itos res·
tos de inst rumentos de pedra polido. Entre os achados de Concheira
da Moita de Sebast ião encontraram ~ se igualm-ente fragmentos de
argila de cabana e restos de louça grosseiro ligeiramente orna ~
mentoda (2 1).
Des te mesmo lugar são os ossos polidos, placas de xisto com
cavidades pouco profundas, obtidos por rataçfia e calhaus arredon ~
dados e muito bem polidos numa dos extremidades.
Esta fase novo dum Neolítico, integrado num meio industrial
de forte tradição Mesol1tico, é ampliado pelo consideração do es ~
pólio do sepu ltura de Vale dos Lages, onde, entre os micr61itos tra ~
pezoidais, jó evoluídos, nos aparece um instrumento polido neolí ~
tico (22) . E mais uma vez verificado a perduraçfio de elementos ar ~
caicos entre populações que, influenciados por novos descobertos,
continuam vivendo a sua primitiva cultura. No entonto, nllO deixo ~
mos de referi r o forte sobrevivência dos micrólitos que chega ó cul ~
turo dos sepúlcros megalit icos do ocidente atlõn t ico, na seu perío ~
do mais remoto ou recen te.
Passar ~ se ~ io o mesmo que em Campigny (Seine inférior) outrora
indicado como uma estaçfio~tipo de Civilização Mesali tica, que é
agora considerado como o estabelecimento característico dos iní ~
/19 ) L. PERICOT GARCIA; Cp. d t o in not o 18, pag. 61 .
(20) F, JORDA CERDA e J. ALCACER GRAU: " I.os pinturos rupntres de Dos
Aguos (Volendo)", Serie de Trobojos Vofios dei S. I. 1>" nÚl'l'l. IS, Volenclo, 1951.
(2 1 ) N, ABERG: " Lo Civil i$O tion Eneolit hique dons lo Pê nir\$ul e IbériQue",
UppSG lo, 19 21 , !'
(22) A. A, MENDES CORREA: li A sepulturo neolítico do Vole dos LO{)es e os
eóUlos de Oto" , ButUel; de l'As'iOCioció Cotolo no d'Antropologío Et nologia i P r e ~
hlslOrio, ...01. III, Borcelono, 1925, pág. 117~146.
'
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cios intrusivos do Civilizaç:\o Neolítico occidental na França, tal
como poro a Dinamarca é a cultura de Erteboelle.
Paralelamente com a cultura micróliti ca dos concheiros de
Muge, desenvolve-se 00 norte do Douro uma outra cultura, o Asturiense .
Nesta época o utensilagem de tradição paleolítico, feita de
osso, é reduzido, sendo 00 contrário, numerosos os artefactos chamados picos : si ngelos godos trabalhados unifocialmente e mais ou
menos aguçados, term inados em ponto e que deviam servir, principalmente, para destacar dos rochedos os moluscos constitu t ivos,
quase exclusivamente, da alimentação destas gentes.
Com estes ins trumentos aparecem, em alguns cosas, desperd ícios do casinha dos seus usuórios e o suo situaç1io denoto uma habitação 00 ar livre, vida somente possível dentro de um clima mais
quente, não s6 que o dos anteriores têmporas paleoliticas ou epipaleolíticos mais também igualmente que o do norte do Europa,
onde decorre a Mesolíti ca II (23). Pelos mesmas considerandos se
conclue que tal clima seria ainda mais cálido que a actual.
Supõe-se que, nes tas regi ões do noroeste peninsular, o indústria do Paleolítico inferior, do tipo de machadi nhas, persiste e não
quebro a continuidade durante os tempos mesolítiCos. Ao que parece, estas populações ficaram isolados e qualquer mudança climótico modif icou o sua formo de vida; volvem o ser principalmente
recolectores e o suo alimentação fico quasi que circunscrito aos
moluscas do litoral. Serpa Pinto acreditou no origem portuguesa
desta cultura, onde, no norte, se acantonaria uma população marginai, descendente do paleolita remoto, popu lação que mantería
alguma dos suas técnicos indus triais. Pode relacionar-se o godo
talhado em bico do Asturiense com os an tiguos ins trumentos paleolíticos.
Es te conjun to cul tural aparece-nos, nos seus níveis superiores,
mi sturado com cerâmica grosseiro, de paredes grassa s e sem decoraçiia, o que nos levo o supor estarem já estas populações em re lação com o Neolítico de tradição mediterrânea.
No entonto, esta cultura, o avaliar pelos minhas excavações
do povoado dos Areias Altas (Porto), perdurou 00 longo de todo o
Epipaleoli ti co, chega mesmo o um Neolíti co avançado, já conhece-
(23)
P. BOSCH GIMPERA : Cp. cil. in no ta 3, pág. 30.
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dor do metalurgia, porém com poucos instrumentos de tolhe microlítica, sem armas polidas, sem pontas de flecho de tolhe bifa cial.
Constatamos assim que a introdução das invenções neolíticos
deve ter seguido um caminho marginal e moritimo (?) e que só a
cerâmica é novidade, uma vez que, quer nos cancheiros de Muge,
do Porto, dos Contabros e Asturios, não nos aporecem instrumentos
líticos polidos.
Defende Martinez Santo-DloUo o existência de um Neolítico
an tigo caroc ter isodo por uma indústria mu ito primitivo, correspon -
dente o um Neolítico de machodi nhos, pertinente 00 com plexo
compinhiense, porolelo a um outro Neolítico, que se poderio chomar copsiense com a sua indústria microlíti ca de silex, que se ajusto 00 complexo cultural de lascas pequenhas e lóminas de traba lho fina e cuidado de farmatos sumamente especializados, incluidas
no denominoç50 vaga de tardenoisense (24) .
Pouco sabemos acerca da chegada dos primeiros gentes conhe cedoras do cultura agrícola primitiva, ou antes, se preferimos, da
exponsf1 dos costumes que os levam a esta formo de economia. E
o
uma quest50 por agora difici l uma vez que grande porte dos ma teriais recolhidos, não O foram e em muitos casos, com um método
assaz perfeito, pelo que nos temos de socorrer dum arrumo provi sório, estabelecendo para tal uma sistemótico tipologico, sempre
defeituoso por subjectivo.
No momento não nos podemos pronunciar sôbre o derroto seguido por estes elementos cul turais trazidos, provóvelmente, por
povos de tipo levantino que procuravam, tonto os terrenos marginais dos rios (Muge e Areias Altos) (16m. r, núm . 2). como as alturas de foci! defesa, do interior (Figueiró do Granja, Cargo do
Maga) . No zona graníti co do cen tro de Portugal niio aparecem os
gru tas pelo que não 5:10 habituais estas formas de residência do
neolito. Com o desenvolvimento do estudo dos restos do Castro de
Figuei ró da Granja ou do Cargo do Mago melhor conheceremos o
viver coléctivo destas populações.
No entanto, a agricultura de enxada seria ainda reduzido; perdurariam os hóbitos caçadores e o recolecção r.onsti tu iria o prin-
J. MARTINEZ SANTA-OLALLA: "Sobte el Neolitico ontiguo en Espa_
Atlo nlis, Actos 'I Memorios de lo Sociedod Espanolo de Antropologlo. Elno_
grofío y PrehislOl'io, 1101. XVI, Madrid, 1941, póg. 100.
(14)
no",
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11
cipal base económ ico. Pelo que sabemos, coexistiriam nesta regi:lo
interamnense (Tejo-Douro) duas civilizações distintos: uma de
agricultores, outro de postares, de trad ição vetusto; ambas utili zavam a caça e a pesca como uma das suas bases para a obtenção
de ali men tos.
Fig 2
A perduraçuo no povoado das Areias Altas de instrumen tos de
tipo Asturiense (fig. 2), associados a cerâmicas dum Neolít ico fi na i, ou princípios do Bronze I (fig. 3), pode indicarnos a perduraÇ:IO local de populações recolec toras, bem ali men tados, cujo loca lização nâo impunha aqualquer razuo que a:i abrigasse a modificar
grandemente o suo economia. Se o aparecimento de moendas nos
indica já o cu lti vo de cereais, o sua topologia litoral, numa costa
rochoso, abundante de mariscos e pescado, não os obrigava a lan çar mão da pastorícia em larga esca la . Tal situaçua não implicava
uma disciplina austera como o da vida em aglomerados. Ao cont rário os populações dos plana ltos da Beira Alta, representada pelas primeiros camadas do Cargo da Mago e do Castro de Figueiró,
tinham que basear a sua ali men tação na coça e no domesticação
-91-
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dos animais, além do cultivo de cereais, pois que nes tes povoados
igualmente nos apareceram pedras de moinho.
Sobre o ponto de visto económico podemos consideror os habi tantes do povoado das Areias Altos, como pescadores e agricultores (com réplica actual nos popu lações de Aver-o -Mor, Aguçodouro e Apúlio) que se 91imentavam de moluscos do litoral (Potellos e Trochu $ sobretudo) e de cereais farinodos e cozidos em pe dras enruborescidas.
Entre os achados, a cerômica tem especial importância . Es ta é
fig 3
sempre o testemunho seguro e ligado mais intimamente o uma
cultura. Desempenho um popel essencia l, n:ia só porque t'e mos de
apreció- Ia como objecto de uso diário, pelo suo fei tura, formo e
decoração, mos também quai s os processos técnicos segu idos e est ilo art ístico em que podem ser agrupados. Por consequência, documento-nos os e leme ntos cu ltura is imprescindíveis poro o apreciação dos relações que exis tiram entre duas culturas e suas in fluências recíprocos.
A cerômica dos Areias Altos tem no seu con junto um carócter
que me levo o inclui -lo en tre as cerâm icos neolíticos, em bora dois
rojões de fundição nos testemunhen já un conhecimento do técnico
me talúrgico . Ser iam pois já contemporâneos do eneolí t ico (Bronze
I) como os vários vasos cón icos (fig. 4, nÚm . I ) e outros de fundo
plano (fig. 4, núm. 2 e 3) porecem comprovar.
A existência destas cerâm icas toscas, lisos, com rel evos jun -
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ASPECTOS DO NEOLITICO DE PORTUGAL
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to dos bordos ou em seguimento dos asas que são tubolores e ho rizontais (fig _ 4, núm . 5), descobertas com um instrumental de ti pologia e técnica asturiense (fig . 2 e 3). bem pode corroborar a
tese de Pericot (25), defendendo o existência de uma fase protoneolítico, no Levante, com cerâmica lisa, anterior à chegado da
cultura hispano-mauritano, à qual é peculiar à cerômico profusamente decorado.
Rastreamos certos contoctôs entre algumas cerâmicos das Areias Altas e outros descobertas na "Cueva de la Sarsa" (Bocoirente,
Valencia) se compararmos do técnica constructiva dos asas que se
prolongam pelo colo do vaso (tipo 4 de formo das vasi lhas de NeoIftico Hispano-Mauritano) por dois cordões em relêvo (26).
Alguns destes vasos, cujo golba tem por prot6tipo a dos odres
anteriores, apresentam o seu fundo hemisférico mais aplanado.
Em alguns exemplares chega a ser completamente plano (fig. 4,
núm . 2 e 3) .
Pode dizer-se que a fragmento de um vaso de pas to escuro, mui to polida, de fabrica cuidado e rica ornamentação e de galbo co renada, talvez nos possa testemunhar a influência dos neoli tas
hispano-mauritanos (fig. 4, núm. 7).
Ressalto-se que entre os cerômicas recolhidos, nas habitações
deste povoado, apareceram numerosos restos de vasos de perfil
ovoide (?), cujo fundo era sustentado por um pé cónico, de anel
basal, com certa semelhança oos que são abundantemente encon trados na cultura predinóstica de Maadi . Este anel basal encontra se também em Beni -Solame; no entanto são mais raros no Egipto
Superior (fig. 4, núm . 6).
De momento SÓ encontramos minguado paralelo entre es tas cerómicas de anel basal e perfil ovoide e um vasa cóni co de anel basal encontrado na gruta de Porto-Covo, O norte de Cascais (27).
Nos vasos dos Areias Altas aparecem os mamilos ovalados dispostos paralelamente a os bordos, o que parece indi car destinarem se o fins práticos, facilitando o suspensão, embora alguns sobres -
(25) L. PERICOT GARC IA, Prólogo in F. JORDA e J. ALCACER GRAU : " Lo
Covocho de UOIO'S IAndilloJ", St-rie de Trobojos Vorios dei S. I. P., nUm. 11, Valend o, 1949, pág. 7 .
126 1 J . SAN VALERO APARI SI: "Lo Cupvo de lo Sorsa (Bocoirenle-Volen_
~~ I'; '. Serie de Trobojos Vorios dei S. I. P., num. 12, Va lencia, 1950; esl . III, I ;
~
127) A. DO PAÇO e M. VAULT IER: "A gruta de Parla-Covo" , Publicoçaes do
Conoressa lusa- Espanhol do Porto, I. VIII , Porto, 19<1 3, fiO. 4, num. 12 .
-
93_
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F. RUSSELL CORTEZ
saiam tão pouco que podemos consideró -Ios an tes destinados o
cumprirem me ras funções ornamentais (fig . 4, núm . 1 e 3).
Todos estas saliências, bem como 05 asinhas perfurados podem
relacionar -se com os povos neolíticos. São frequentes no mobi! iorio
elós t ico das grutas portuguesas (28) . Aparece tal decoroç:lo em al guma dos Antas da Bei ra: Anta da Sobredo, Orca do Tanque, Orca
dos Antas, sendo no entonto ra ro o seu encontro , nas construções
mega liti cos dos demais regiões. A suo posição c ronológica, e a suo
atribui çiio 6s culturas neolíticas, é confirmado por se ter e ncontrado ce râ mi co des te ti po e m est ro tos mais baixos do que a cerômico companiforme (29).
Desta espécie de cerâmica há substanciol testem unho logrado
no exame dos espólios de sepu ltu ras e grutas do Peninsula e sim ilares estações do Oeste europeu (30) .
Para l eisner estes mami los têm um significado religioso quando vemos dois deles juntos, quer por baixo do borda, quer no porte
super ior do corpo do vaso (31) .
Os vasos pequenos esféricos que siio t ípicos da cultura dos an tas eneolíticas do Al ente jo e frequentes nos gru tas artificiais e
nos an tas da Beira Baixo, perto do rio Tejo, siia ra ros na cu ltura
mega lítico do Beiro Alto. A divulgação destes pequenos vasos, coincide de uma maneiro geral, com a da placa de xisto gravado.
O vaso esférico de maior tamanho (fig . 4, núm . 8) tem uma
(281 A. DO PAÇO, M. VAULT tE R e G. ZBVSZEWSK t : "Gruta do nascenle do
rio Almondo", Trabalhos de An tropologia e Etnologia, vaI. XI, fosco I, PôrlO, 19<17,
esl. VI, IX e X.
(29) J. MALUQUER DE MOTES: "Lo estrol lg. ofío arqueológico de lo cuevo
de ToroUo (Lérida)", AmpuriO$, VI, Barcelona, 19<1'1, DÓg. '13.
(30) E. JA LHAV e A. DO PAÇO: "EI cOS lro de Vi lonovo de San Pedro", Aclos y MeffiO( io.' 1e lo Sociedod Esponolo de Antropologia, El nogro Ho y PrehiSlorio,
I . XX, Madrid, 19'15, póg. 55.
S. VILASECA ANGUERA: "los hoUozgas prehislÓf kos en Arboll (Provincio de
Torrogono)", Ampuri os, II I, Borcelono, 19'1 1, p6gs. 4 5-62 ,
J. MAlUQU ER DE MOTES: Cp. ci to in no to 29.
G. e V. LE ISNER: Cp. ci l. in nOlo 10, esl . 19, 23 (Los Mil1oresl.
J . PHILIPPE : Cp. dI. in noto 10, esL XXV, 25.
P. VOUGA: "Le Nêolithic lacustre oneien", Recuei! de Trovoux publiés por lo
Fcx:uhe des Lellres $OU$ les oUSpkes de lo Societê AcodemiQue. neme foscicule.
Neucho lel. 1934 . esl. XIV.
C. SCHUCHHARoT: "Wesleuropo 015 alter Kul turkreis". Silzungsbe.-ich te de<"
Kanig!. Preuss. Akodem ie der Wissenschohen, 1913. Bond 17. pag. 1'10. fig . 7
(Pornk, Nantes).
J . HAWKES: "Aspe<:fs of lhe Neol"hic onel Cholcoli lhk Periods in Wes tern
Eu rope", in Antiquity, vaI. VI II , 193'1, pag. 24 _'1 2.
(31) G. e V. LEISNER: Cp. cil . ln noto 10, p6g. '190.
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AS PECTOS DO NEOL IT ICO D I~ PORTUGA L
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maior ocorrência nas Antas do Beiro Alto (TelhaI, Medo, etc .), onde, acompanhado por um vaso de corpo quase cilíndrico e de fundo
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plano que também nos aparece no povoado das Areias Altos, determino um aspecto da indústria cerâmico que se afasto bastante
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F. RUSSELL CQRTEZ
da do Alentejo. A decoração destes vaSOs do Beiro, com motivos
ornamentais semelhantes oos dos cerâmicos das grutos, aplicados
conforme a técnica próprio daquela cultura reforço o impressão
de Leisner de que o suo origem poderio ser procu rado no Neolítico
regional. Em vórias antas do regiflQ o vaso esférico, d~ tomanho
maior, aparecendo quer espólios de transiçflo, quer nos eneolíti cos, estabelece uma li90ç[10 com o cultura dos povos neolíticos,
sobre tudo quando tais vasos s:io pin tados o almogre.
Estes vasos de barro cinzen to ou vermelho, cOQerto por um engabe vermelho vivo, ton to interior como exteriormente, const ituem
o grupo do ce râmico neolitica de ol mogre, e o suo forma deduzido
dos vasos inte iros ou dos seus fragmentos é quase exclusivamen te
o es féri co.
No mobiliário clóst ico das Areias Altos, os pés cóni cos, de anel
basal, per tencentes a vasos ovoides (?) (fig. 4 , núm . 5), são também a lmagrodos, tonto por den t ro como por fora ~ muito possível
que um dos vasos esféricos, de colo levemente es trangu lado (fig .
4, núm . 4), fosse igualmen te pintado a a lmagre, o que tem pora leias no espólio do an ta do Olival da Pega (Reguengos) (32) .
Na Beira Alto encontramos exemplares desta cerâmica neolltica na Orca dos Juncoes (Quei riga) (33) . Amorim Girão refere cerômicas pintados de vermelho entre o espólio da Caso do Orca (Molhada de Combarinhol, não longe das nascentes do Alfusqueiro :
" ) ponta de se ta de si lex (est. nÚm. 3 ) de base biconcavo e numerosos fragmentos de cerômi ca fabricados ou com barro grosseiro
da localidade, algumas vezes pintado de vermelho, ou ainda com
barro mais fino. Um destes últimos era orna mentado" (34) .
Nos a rredores de Vi seu, em T ravoçós, no Momo ltar de Vale dos
Foxos, apareceu igualmen te um vaso de fundo esférico de borro
vermelho (35) .
Esta cerâ mico olmagra, pert inen te 00 período neolítico, é carocterisoda por os vasos serem cobertos por uma pintura uniforme
de ocre vermelho (36). Tem sido, posteriormen te mu ito estudada
(32) G. e V. LEI $NER: Cp. d t. in IlO ta 11 , póg. 69, esl. XXV II , 6.
133 ) Museu Etnológico de Belem, num. 95180, sego LEI$NER : Cp. d t. in no to
11, pág. 73.
134) A. DE AMORIM GI RAO: "Ant iguidades pré-históricas de Lofoes", Coimbra, 1921, póg. 49.
(35) J. COELHO: "Natos Arqueolâgicos", Beiro Alta, VI, plIg. 61.
(36) M. GOMEZ MORENO: "La cerómico primi tiva ibérico", Homenagem o
Martins Sarmento, Gu imaraes, 1933, plIg. 125-136.
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ASPJ<:t,"TOS DO NEOLlTlCO DE PORTUGAL
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pelos arqueólogos espanhois quer poro determ inações cultura is,
quer cronol6gicos, conside rando-a como um dos tipos gu ias do época do Neolítico hispano-mauritano (37) .
Leisner acentuo que sobre o expansão do cerâmico olmagrodo
em Portugal não podemos, por agora, apresen tar ideias definitivos.
Parecia niia ser muito vulgar nos antas de corredor. No entonto,
"par t indo do espólio do Anta do Poço da Gateiro (Neolít ico puro).
no qua l esta cerâmico se encontrava por primeiro vez , documentado de uma maneiro incontestável, podiomos, a póz uma revisiio
minucioso de todos os cocos, reconhecer uma divulgoçiio considerovel desta indúst ria no concelho de Reguengos. Tal revisiio devia
estender-se o todo a cerâmi co do cu ltura megalítico. Dois fac tos
dificultam, no entonto, o estabelecimento de um quadro completo
daquela divu lgação. Em primei ro lugar temos vários provas de que
os cocos expostos à intemperie perderam os camadas superiores" (38).
No Alentejo apareceu cerâmico des te tipo encorporado em espólios que, sob o ponto de visto cu ltural , pertencem 0 0 Neolítico
puro, 00 Neolí t ico de cerâmico avançado e 00 Eneolitico (Bronze 1) .
Baseando -se nos elementos entrevistos no exploração met6dica
dos Antas de Reguengos, Le isner opina que o técnico do pi ntura
o almagre niio é oriundo, nem do Neolít ico dos pequenos d61menes
alen te janos, nem do círcu lo mais vas to do Neolítico da Europa ocidental, mos que os suas relações se encontram no sul e no leste
da Penínsu la .
De acordo com o exposto, e entre outros conclusões, inclue o
cerâmico de almogre no círculo cultural do ídolo Almeriense, con sequentemente ligado com os estratos do segundo período de AImer;(I, onde es te t ipo de idolo nos aparece já em espólios neolíticos.
Idolo este que parece es tar em intimo ligação com todo o con junto
137 ) J . Mi\ RTINEZ SANTA -OLALLA: " La fecho de la cer6mica a la almagra
cn cl Neolít ico Hlsponomaurltano", Cuadernos de Historio Primi tivo, Ano III,
numCfO 2, Madrid, 19<18, pág. 95 O 106.
J . SAN Vi\LERQ APAR ISI: Cp. ci t. in nota 10.
J. Mi\RTINEZ SANTA _OLALLi\: "Cereoles y plon tas de Ia cultura Ibero $Ohadana en Almiza'Oque (Almeda)", Cuodemas de Historia Primitivo, Ana I, n\unera 1, Madrid, 19<16, pág. 35-<15.
B. SAEZ MARTIN: " Nuevos precedentes chipr iotos de los ;001 placas de la
0$
cult ura iberosohorjona", Actos y Memorias de la Soci~od Espoiiolo de Antropo_
logia, Et nografia y Prehiltoria, I. XIX, Madrid, 1944, pág. 13<1.
(38) G. e V. LE ISNER: Cp. cit. ln nota I r, póg. 73.
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do e mprego artíst ico do cor vermelho (39) . A suo efígie aparece
como um dos motivos principais no pin tura megolitico. Tal depen dência explicaria o aparecimento do fragmento do vaso de cor vermelho, com umo pequena asa, na Orca dos Juncaes (Queirigo), como sa bemos ornamentado de pictografias vermelhas, de tipo esquemóti co e ascendência Levan tino .
A presença de machados, enxós, mi crólitos e louças do ti po
neolí t ico, nas an tos do Alentejo Orienta l e do Be ira Alto, bem
ates to o ligação da cultura megalítico com o populaçiio neo líti co.
Encontram-se em mui tas antas do Península resíduos do indústria
neolítico, tais camo micróli tos de ti pos pos teriores. Em muitos a ntas obundpm porém micrólitos de t ipos primitivos, pelo que Leisner
pensa que os de ti po posterior não revelam sómen te umo sobrevivência de formos, mas de uma par ticipação activa do povo neolí ·
tica, embora par falto de ordem estra t igrófica, seja, na tura lmente,
impossível dizer quais fora m os límites de tal par t icipação cultural.
Nos provincias do norte de Portuga l e no Golicia, predomina m,
em algunas zonas dolmenicas, os machados Je secção rectangu la r,
alcançando no Beira Alto o percentagem de 95 % (40) . Comparando a difus:i o do machado cilíndrico com o dos tipos arqu itec tónicos, acentua Leisner (4 1) uma certo relaç:io entre o divulgaçflo
do a nta com corredor de dois grandes es teios e machado ci líndr ico.
No litoral Ocidental de Portugal o machado cilíndrico estó bem
documentada nos grutas na tura is e ar tif iciais, aparecendo tombem no região dol ménica da Figueira do FÓz .
Em todas as regiões dalmenicas onde prevalece um machado
de secção rectangular, escaceia m as enxós. Igual aspec to é notifi ·
cada pelos investigadores da castro de Vila Novo de S. Pedro (421,
os quais, então, confrontam o indúst ria deficien te de ped ro polida
com o perfeiç:io dos ob jectos de sílex, aspecto tam bém apresen tado pe los Orcas da Beiro Alta. Poderemos ligar es te fac to com o
modo de viver des tas populações, certamente baseado no caço.
Pelo can trório, na órea litoral onde prevalecem os machados e
enxós de forma perfeito e bem acabadas, simul tâneamen te com uma
(39) G. LEISNER : "Oie Molereien des Dólmen Pedro Coberto" , IPEK, 193<1 ,
Berlin_leip:r.ig, 1935.
140 ) G. e V. LE ISNER: Cp. cit o in noto 11 , póg. 49.
(41) G. e V. LEISNER: Cp. til. in no to II , pógs. 32 y 49.
(42) E. JAlHAY e A. DO PAÇO: Cp. ci t o in no to 30, pogS. 21 y 22.
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ASPECTOS DO NEOLlTI CO DE rOlrr UGAL
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indúst ria prim it ivo de silex, sem re toque facial, su rgem os ilações
do exis tência de um mais generalizado a manho da terra .
Podemos comparar o pervivência de indús trias remotos, com
ceróm icas de tradiç:l0 neolí t ica ligadas a outros do Bronze I, que
ocorre no povoado dos Areias Altos, com o espólio encon trado, numa suma rio pesquiso, em varias estações do Sahóra Espanhol (43).
onde, com uma indús tria de t ipa Neolítico de trodiçilo capsense,
encon t ramos cerâ mica do Bronze I. Surgem os mesmos problemas
susci tados pe lo convivência de uma indús t ria Ht ico remoto con jun ta men te com cerómicas avançadas (44) .
A posiçi'i o dos m icrólitos no Anta do Poço da Ga te iro forneceu
a Leisner (45 ) uma base para o cronolog ia rela tiva de alguns ti pos : "O micrólito em forma de meio lua encontra do no fundo do
cómaro pertence, com certeza, a uma dos pr imei ros inumações,
00 posso que o micrólito de base rec ta, no corredor, pertence à úl timo inumaçi'io. Tal fac to coaduna-se com a pasiçi'i o cronológi co
a tribuído aos micrólitos em for mo de segmento de circulo. Em Portugal apareceram em vórios estações mesolíticas (46). em grutas
neolí t icos (41) e ainda em grutas de espólio parcial men te eneolítico (4B) . Saíram ta mbém de dólmenes pri mitivos da regii'io de
Mon temor-a -Novo, sendo, porém, ra ra a sobrevivência deste t ipo
em an tas de épocas posteriores, das quais apenas se podem cita r
a lguns exemplares" (49) .
"No indústria mais prim itivo incluem-se ainda os trapézios do
tipo 2 com os lodos de com primento igual, sobretudo os de tamanho pequeno, traba lhados em loscos de focos fi nos e est rei tos, típicos do Neolí t ico mais an t igo" (50).
(43) M. AL MAGRO BASCH: " Prehis torio dei Nor te de Africa y de i S6hora
Espana l", Instit ut o de Es tudios Africanos, C. S. de I. C., Barcelona, 1946, póg. 64
e fig !. 17 o 20.
(441 Tal fac to surge, igua lmen te, em vórios an tas do Alentejo; Vid. G. e V.
LEISNER. Cp. d t ln no ta II; E. JALHAY, A. DO PAÇO e L. RIBEIRO: " Es toçoo
Prehist Óf ico de Montes Clo.os", Revisto Municipol, nÚm. 20 e 21; e E. J ALH AY:
"Uno fase inreresonle dei Bronce inicia l por tugués", Ampurios, IX_X, Barcelona,
1947 _1948. pgs. 13 -2 0 e esl. I-VII.
(45) G. e V. LE ISNER: Cp. ciL ,n no to II, pág. 56 e 57.
(461 Moita do Se:bostiao, Cobeço da Arruda (Muge).
(471 Gru ta dos Carrascos.
(481 Gruta do Poço Velho (Cascaisl, Gruta do Go li nho.
(49) Anta do Capelo, Alentejo; Anta do Rio Torto, Penedono (8elro Al ia ).
(501 G. e V. LEISNER; Cp. ciL in noto II, pág. 57. Poro 05 outores estes
m icrólil OS neoliticos diferenciam-5e do lipo semelhonte dos concneiros por terem
05 lodos do trapézio noo quebrados, mos rectilíneos.
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Es te tipo rareia nos antas já con temporôneos do Bronze I, no
en ton to foi encon trado em várias antas da Beiro Alto : Anta do Rio
Torto, Orca do Tanque, Orca do Cunho Baixo, Anta de Pedrei to
e Mamal tor de Vale de Faxes; contrariamente escasseio nos antas
alen tejanas. Da região de Pon te do Sôr (Dolmen de S. Bernardo)
exis te no Museu Et nológico de Selem um exemplor do tipo referido
e como Leisne r por lá en treviu vórios pequenos dolmens que pode riam pertencer 00 tipo primit ivo, espero aquele douto Arqueólogo
que o fa c to de o micrólito desta forma andor ligado 00 dolmen pri m itivo se ja con firma do nou tros regiões do Alen te jo Ocidentol.
"Estes ti pos mais primitivos, oos quais se jun tam os tri ângulos
com o lodo in ferior a longado e os peças de pon ta lateral, têm, além
~ 4t
FIg. 5
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de ana logias com o indústria dos concheiros portugueses, a fi nida des com o neolítico de tradiçiio capsiense e com a oran ie nse, da
Afr ico do Norte" (5 1) .
Os tropézios com O lado superior ma is com prido (t ipo 3), e os
t rapézios de base recto (tipo 4), já mais evolucionados, têm uma
lorga d ifusiio e dilatado emprego. Aparece-nos em Muge (Cabeço
da Arruda) e no Beiro Alto, no Orca do Tanque, Orca do Velhal
(figs. 4, nÚm . 8 e fig . 5), e no Mamoltar da Vole de Faxas. Os
trapézios com enta lhe na base (t ipo 5), ra ros nos an tas de corredor alentejanas, foi també m encon trado nas on tos da Bei ro Alta:
(5 1)
G. e V. LEISNER: Gp. ci l. io nolo I I, p6gs. 57 e 58.
-
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ASPECTOS DO NEO LlTlCO DE PORTUGAL
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An ta do Rio Torto e Mendelim . O seu achado frequente na gruta 3
de Palmela pode sugerir um novo facto poro O estabelecimento de
relações entre o cultura de Palmela e as coevas populações da
Beira Alta.
Siio pouco vulgares no Norte e Cen tro serrano de Portugal os
silices que, pelo seu polimento lustroso dos bordos, possam ser considerados como elementos de foicinhas.
A divu lgaçiio destes elemen tos de foice prova per tencerem o
uma época de agricu ltura desenvolvido cu jos focos culturais temos
de buscar no orla litora l. A suo escossêz no zona peneplon6l ti co,
onde proli ferou a cultura megalí ti co, permite o iloçiio de que estas
popul ações construtores dos Orcas se dedicavam o acti vidades es sencialmente pastorís e, provóvel men t e, ainda no in ício do época
do Bronze se conservavam nas regiões serranos afastados do costa.
Em todas as regiões aqui citados o tipo de anta com corredor
de dos grandes es teios, poderio ter provindo de um Neolítico local
e marcor uma certo fase evolutivo da cultura megalítico que, em
regiões mais a fa stados dos correntes cu ltu rais provenien tes do li toral , sobreviveu até épocas posteriores. Naturalmente, tol teoria
é apenas hipotético e exige, poro a sua confirmoçflo, novos excavoções nos províncias do norte de Portugal. Devemos ainda mencionar que a lguns dolmens de Salamanca opresentom reminiscências deste tipo de corredor, que provavelmente foi levado de Portuga l para o Catalunha (52) .
A cerômica é por vezes muito tosca, de borro pouco puro e im perfei tamente cozido. As formas são mui to simples: escudelas hemis férica s ou t roncocónicas, vasil has cónicas ou quase ci lí ndricos
com o fundo plano ou arredondado. Quase que não súo ornamentados; quando decorados os motivos siio muito si mples e reduzemse o incisões pune ti formes mai s ou menos regu lormente dispostas,
linhas, unhadas e impressões digi tais, cordões com impressões a u
relêvos, im pressões cordiais. Faltam os asas que estão substituídos
por pequenos pegadeiros salientes verti cais, ou, mais raramen te,
horizon tais (Muge) e furados para a suspensão.
~ muito possível que a escovoçiio dos pequenos an tas, sem corredor, do Monte Mósinho (Penafiel), do plaina do Lodorio, sabron ·
(521 L. PERICOT GARCIA: "Los Sepulcros Megalíticos Calalane$ y la Cultura
Pi rena ka", Monografias dei Ins titUTO de ESTudias PirenakOS (C. S. de I . C.I, Pre.
hiST
orio y Arqueologia, 4, núm. general 3 1, Sarcelona, 1950, pag. 121 .
-
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F. RUSSE LL CORTEZ
cei ra ó Seixo (Vouzela) que con têm machados polidos ci líndricos
(facto raro no Beira Alto : região onde predominam os ma chados
rectangula res), nos forneço os necessórios elementos locais poro
o es tudo dos megálitos sem corredor, semelhan tes 00 do Alentejo,
Mont emor-a -Novo, Lavre e Conho (5 3) , Pav io (54), e no região do
Guadiana, he rdade de Font'Alvo (55 ).
Valioso contributo poro o esclarecimen to des ta questiiio fo i dado pejos invest igações de Leisner nos antas alente janos. Se niio podemos hoje admitir a evolução in interrupto de todos os tipos a rquitectónicos, desde "os dolme nes neolí t icos dI:! Al vao" a té os cistos
mega lít icos, incl uindo nesta evolução os sepulturas de cúpu la (56) .
Ta m bém n flO nos podemos apega r ó teoria inversa, colocando em
último lugar os pequenos dol mens como resu ltado duma degeneração; t lio pouco considerar o tholo$ orien tal como protótipo de
todo a rqu itec tura megalí t ico do Península (57) , basodos num progress ivo conhecimento dos cultu ras Nor te Afr icanos e do Próximo
Orien te, invest igações que permitem inseri r os cu ltu ras H ispõnicos
em circulas culturais cada vez. mais vastos.
A teoria de uma dependência absolu to do cultura megalít ico do
Orien te é defendido por Martínez. Son ta -Olalla, que considero os
sepu ltu ras de cúpula do sudes te de Espanha como o foco mais ant igo e a origem de toda evoluç:lo megal ít ico. Daniel , dis t ingue duas
linhos evolu t ivas uma ogra ngendo a s sepul tura s do corredor e li ·
godo à tholos, outra formado pelas sepu ltura ~ de ga leria (58).
O quadro cultural , nos seus a spec tos básicos, confirmo o impossibil idade de estabelecer uma unidade en tre os povos cons trutores dos tholoi e os dos ant as. O povo mega lítico dos regiões mais
e levados e dis tanciadas do li tora l, man teve sem pre um hobitot
igua l ao típico dos primeiros povos neoJi t icos do Pen ínsu la, prováve lmen te em consequência duma ac t ividade pastori l pri mitiva .
Após um curto fl oresci men to dos teorias orien talistas, volta ·se
15:1j
h covoçoes inéd itos do Doutor Man ue l Hel eno.
{541 V . CORRE IA : " EI Neo lít ico d e Pavio (Al en tejo·Por tugal )", Memorio nú mero 27 de lo Comisión de Invest igoc iones Pa leon to lógicos y Preh is t6r icos de lo
J~nto poro Ampl ioc'6n de Estud ios e Inves tigociones Cien tificas, Ma dr id , 1921 ,
pogs. :IS, 57, 62 e 70.
(55) EltcOYoÇoes do MojO( Alfonso Do Poço.
(56) G. e V. LEISNER : Op. Ct t. in noto I I, pogs. 169_170.
(57) Defe ndem 101 leorio J . Mortine:r. Santo-Olollo, G. E. Oo n'el, V . G. Chl! d e, C . F. C . Howkes, C. D. F« d , H.. J . Fleu re e H. J . E. Peoke.
(58) G. E. DAN IEL: " The d uol NOlure 0 1 lhe M~oli t hic Colonisolion of Pre.
hln«ic Europe", Proceedings o f lhe Prehistor ic Socie ly, Poper 1, Combridge, 194 1.
_
102_
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ASPEcrOS DO NEOLIT1CO DE PORTUGAL
23
'1"'11
a a tribuir nova mente ó Europa uma força criadora na evolução ar·
qui tectónico do Neolítica e Bronze inicial. Tem aumentado, nos
últimos a nos, o número de arqueólogas empenhadas em jus t ificar
o existência de uma ligação mais íntima entre a cultura megal ítico
e a Neolít ico europeu (59).
Volto -se em parte a teorias antigos; porém Leisner nlio acredita no prioridade do pequeno camoro poligonal como t ipo mais
an tigo, nem na sequência evolutiva do sepultura megalíti co paro
a de cúpu la . Defende uma evolução autactone do sepultura mega lítico em Por tugal, problema esse poro cu jo solução a s An tas de
Reguengos forneceram novos esclarecimentos: ta is como "em pri meiro lugar, o apareci men to de espólios neolí t icos en dólmenes de
corredor; em segundo lugar, a const rução de duas tholoi posteriormente a dólmenes de corredor, e, fi na lmente, o reconhecimen to de
duas correntes culturais diferentes nos antas : uma delas mos trando uma evoluçii.o sobre bases neolít icos, o ou tro revelando tado a
material eneolítico" (Bronze I).
No decurso destas invest igações foram observados determina dos factos que estabe lecera m uma íntimo re laçtla en tre os estra tos
neolíticos e o cultura megalítico de maneiro que jamais pode ser
defend ido o teoria de serem os pequenos dórmenes, sem corredor,
apenas formos degeneradas.
" Todos es tes factos permitem admitir a hipótese de que o pe·
quena dólmen em forma de galeria teria sido o t ipo mais antigo.
Pos to que ainda falte uma documentaç;10 in tegra l, já se nota,
também no ocidente da Península, uma evoluçtlo que, em todos os
períodos, conserva características do sepul tura de galeria. A conf irmaçfio des tas hi pó teses viria escla recer vários problemas" , Ex plicar-se -ia assim a evolução do técnico cons t rutivo das grandes
antas por tuguesas.
"Consequen teme nte, o cul tura das pequenas an tas poderia ser
equivalente à das sepulturas neo líticos do leste do Penínsu la e a
suo origem poderio caber numa das correntes mais antigas do neolitizoção do Península" (60); no entonto posterior ao estralo neo-
(591 G. e V. LEISNER : Op. ci t . in noto 11, pogs. \72 e \73 .
J . HAWKES: "Les monuments socres en Gronde-Bretogne", Revisto de Gu imo'''~,
LlX , 1-2, &ri...",,,...., 1919, póg . 120 e segs.
L. PER1COT GARCI A: "Lo Espana Primitivo", Barcelona, \950, pôg. 146.
(60) G. e V. LE ISNER : Op, cito in noto II, póg. 173 o 175.
-
103 -
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24
F. RUSSELL CORTEZ
lítico de Muge, área donde provêm alguns machados ci líndricos
(61).
liA existência de sepulturas de espaço alongado, também em
Portugal, colocoria, numa época mais avançada, o divisão das formas arquitectónicos em sepulturas de corredor e sepulturas de galeria, A divulgação do primeiro destes ti pos pelos costos atlânticos
ocidentais" e do meridoo, "apenas se terio efectuado na segunda
época do evolução megalítico em Portuga l, época que corresponde
00 ibero-sohariono e aindo ao período do vaso companiforme" (62).
(61)
(62)
Museu de AntropOlogia da UniversIdade do Porto.
G. e V. LEISNER : Op. ci l. in noto 11, p6g. 175
-104_
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RUSSlLL. -N..olitin .... PO.IUIO(
LAM. I.
I .-Mp«to do comodo do Cobeço do Amoreiro (Muoel mos lrondo o recolho do
_
semi-eslérico.
1.-P0Y00d0 do Are'01 AII01 (Por tal . A loreiro de UITICI nobil oçoo jó comple tomen te
descober lO.
(FotOl Russelll
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FERNANDO RUSSE LL CORTEZ
fl5pecto5 do neolitico de Portugal
Por es tas regiões do centro de Portuga l, 00 clima húmido e fri o
da é poca glaciar, deve ter sucedido um clima seco, e ecol6gica mente estepório. Então, o fl ora permite o desenvolvimento duma
fauna herbívoro de corredores. Aparecem os populações dos caça dores, flore sce uma arte pictórica, relacionada com os totens, do
qual siio sobrevivência as pic tografias da Queiriga. O Beirflo seria
en tão, um con tinental o percorrer, qual nómada, os pradarias, os
chiios dos vales, perseguindo os manadas dos bois, dos porcos, de
cavalos e de veados.
Depois, em novos têmporas, sucedem grandes mudanças climól icas. A aridez va i progredindo por extensas regiões 5ub- tropicois
e os civi1izaçi'les estepórias desenvolvidas nestas regiões do Asia
Centra l e do Sahára, entram em conflito com o meio ambien te e
iniciam -se grandes migrações. A Humanidade vê-se en tiía compelido poro a Mar, embora niia esteja o ele habi tuado e ainda o niio
sa iba dominar. A medido que estas condições climóticas se viio
acen tuando, nos bordos Oceônicos do Europa, disfrutor-se-ia um
cl ima moderado e húmido, condicionado às influências do GulfStream e da Zona Ciclónico do Islônd ia . Os bosques de árvores de
folho caduco, progridem nos estepes paleolít icos. Numerosos espécies arborescentes refugiados no região mediterróneo remonta m
novamen te paro O Setentriiio.
Estos modificações climáticos provocam entna importantes mi grações humanos que, convergindo no sen tido do Mediterrâneo,
formariam uma mesclo de homens e ideias, logo disseminados o tra _ 81 _
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2
F. RUSSELL caRTEZ
vés dos suas margens, levando no seu deambulor, o produto do suo
experiência, das suas invenções.
Entre os novidades apontadas sobressaem novos técnicos, que
generalizados, haviam de permitir que o homem resis ti sse melhor
oos contrastes climóticos.
Aprendem o conhecer melhor, e o aproveitor os trutos daquelas plantas que maiores reservas a limentares continham. Iniciam o
agricultura pelo selecção das semen tes. Ao mesmo tempo generoliso-se o domesticoçfio de animais, nomadizando-os, progressivamen te, com o homem . Utilizam, em largo esco lo, o plasticidade do
argi la, descobrem o olaria; julgo que esta técnica foi descoberta
simu ltâneamente em diversos (incões, ou então pelos po leoli los 50horionos.
Toda esta humanidade, repelida pelos estepes em vias de desertificaçua, trazia consigo núa só as frutos da suo experiência, do
luto rude contra o aridez, como múltiplos apeirias agricalas : vórios
sistemas de cultivo, diversos técnicos de canst rucçiia, desde o aparelho do pedro o seco, até à cabana fruste de peles ou de romaria
entrançado e borrada.
Tinhamos chegado aos tempos ditos neolíticos,
uma humanidade, meio nómada, meio sedentória.
°
Os caçadores transformam-se em postares, os recole tores em
agricu ltores.
Os neolitas ganadeiros e ogricultares, de economia matriarcal ,
sociedade onde o mulher tinha preponderância, no sua expansi'ia
através dos margens da Mediterrâ neo atingiram bem cedo faixo
Atlôn t ico do Penínsu la, como os camadas neolíticos de Muge, dos
Areias Altos, do Castro de Figueiró do Gran ja, o comprovam . Integraram -se entre o popu laç:'io local que continuava o ut ilizar os seus
micrólitos nos pavis do Tejo, nos margens do Mondego ou os picos
e raspadores do orla litoral do Noroes te Peninsular.
°
°
Poro
saluçlio deste apaixonante problema do t ra nsiçiio do
Mesolíti co 00 Neolí tica, nenhuma estaçiio como os concheiros de
Muge pode fornecer melhores elementos, maiores possibilidades de
avoliaç:io, em especial sobre o, ou niio, exis tência de influências
africanos nos populações de caçadores jo seden tarizados que ocu pavam o Penínsu la desde o Paleolítico superior até 00 Neolíti co.
As conclusões que têm sido tirados do estudo dos indústrias de
Muge siio variados. Hugo Obermaier, de acordo con Breuil, inclui os no epipoleolitico, falo -nos do Capsense ou da Capso-Tardenoi
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82 -
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ASPECTOS DO NEOLl T ICO DE PORTUGA L
3
siense. Mendes Corrêa mostro depQis, o existência de diferenças entre os vários cancheiros, en tre os vá rios locais de habitação destas
populações ribeirinhos do Te jo, que muito devem ter perdurado .
Ha concheiras que devem te r sido contemporâneos e abrangeram culturalmen te varias vidas do homem post-quoternário, continuando este o util izar uma indústria lítico no qua l os m icrólitos
vila logrando um emprêgo sempre crescente.
O concheiro melhor conhecido é o da Amoreira . Reve lou -nos
uma indústria que, paro Mendes Corrêa, Breuil e Obermaier, refl ete uma acentuado influêncio capsense nos seus t riôngulos. T ipol6gicomen t e encon t ramos no Cabeço da Amoreira, lóminas finos, de
dorso rebatido, os crescentes, os triângu los e os trapézios silo ma is
raros ( I ).
Outros concheiros, como O Cabeço dos Morros (2), fornecem láminas retocados e t rapézios cu jo t ipologia perdurou a t é 00 Neolítico.
Igualmente poro Bosch Gimpera (3) os negroides de Muge seriam originarias do mesmo foco de que resu ltaram os homens do
Neolítico africano de tradiç:10 capsense, em que também se encontro, um duplo elemento dolicocéfa lo e braquicéfalo.
A suposição do perdu ração do povoamento do região de Muge
no de albar dos tempos Neolíticos não é gra tui to, a ntes é con f irmada pelo aparecimento no Cabeço do Amoreira de um bem conservado vaso hem isférico, sem ornamentoçi"to que jun to o muitos
ou tros restos cerómicos nos mostro o ocupação tordia dos conchei ros (f ig . l) (4).
Ao considerar em 1934 olguns novos elementos cronológicos
ob tidos no decu rso das excavoções dos concheiros de Muge, Mendes
Corrêa, refere o Cabeço do Amoreiro e ensina: "Apareceram al guns frag mentas cer6micos, mas que, se~ dúvida, se podem con siderar provenientes de intrusões u lteriores, são, porem, de notar,
(1)
A. A. MENDES CORREA: "Novos estoçoes Fticas em Mugem", 1 Congresso do Mundo Português, Lisboo, 1940.
(2) A. DO PAÇO: "Novos concheirQS do va le do Teia" , in Brotér io, volumen
XXVIII, fase, I, Lisboa, 193B.
A. A. MENDES CORREA: Op. cit. in noto'.
M. ALMAGRO BASCH : "Los problemas dei Epipoleolílico v Mesolílico en Espono", Ampurias VI, Barcelona, 1944, pág. 2.
(3) p, BOSCH GIMPERA: "EI mesolitico europeo", Ciençja, VII , Méxi co,
1946, pág. 301.
('I) A re
-
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4
F. IWSSELL CORTEZ
um vaso grossei ro, sem decoraçiio, de fabrico manual (fig. 1, nÚm.
I), com aspec to neolítico, e dois fragmen tos con mamilos perfura dos (f ig . 1, núm . 2), possivelmente tombem subsequentes ao Me-
.- ---
------ -
- - -- - - -
Fig . 1 IT. n)
salitico. E imprudente cons ide ro- los, sem hesitação, da camada
arqueológico mesolíti ca. Nes ta abundam apenas pedaços in formes
de borro moi cosido" (5) .
(51 A. A. MEN DES CORREA: "Novos elemen tos poro o cronologia dos concheiros de Muge", Anais do Foc ultode de Ciências do Por lO, XVII I, Por lO, 1934.
pâgi no 7.
-
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ASPECTOS DO NEOLlTICO DE PORTUGAL
5
Vemos pelo douto opinião, acabado de transcrever, que as habitantes dos cancheiras de Muge já conheciam a utilizoçiia do plasticidade do argi la, largamente utilizada na revestimento das empalissadas, das empenas, das lareiras, das choças que lhes serviam
de moradio.
Talvez nÍlo se passa perfilhar a apiniiia de que o vaso cerâmico
encontrado resultasse duma intrusão, ocasional e posterior, uma
vez que os es tratos não apresentavam sinais de revolvimento, não
é defensóvel a progressão do vaso devido ô acção da gravidade, todos os fragmentos es tavam juntos in situ (Ióm. I, 1l. Se o vaso
fosse posterior Ô constituição do respectivo horizonte arqueol6gico
do concheiro, igualmente feriamos de considerar como posteriores
alguns crâneos que foram recolhidos no suo imedia ta proximidade .
Poderiamos supor o existência, com tais testemunhos, como por
outros razões a afirmou Breuil e, subsequentemente, Obermaier
(6), duma etapa prato-neolítica poro o final da ocupação humano
que os rebotalhos de Muge representam. No entanto melhor ser6
valorizar as achados cerâmicos, esperando que ulteriores investiga ções nos concheiros nos tragam, melhores e mais numerosos, informes poro O estabelecimento duma cronologia relativa entre os vorios concheiros e a possibilidade de si tuar mais exactamente o doto
do abandono daqueles lugares.
E minha impresstlo de que a terminus do occupação humana
dos concheiros de Muge deve es tar ligada com a chegado dos gen tes portadoras do machado cilíndrico, domesticadora do cerdo e
duma agricultura aperfeiçoado. "A descoberta no Cabeço da Amoreira, de covas, abertos na areia estéril da base e cheios de conchas (mu itos por abrir), carvões, espinhas de peixe, etc . evoca a
ideia de depós itos de provisões, como os s ilos da a ldeia de EI Garcei, explorado por Sire t. Mas estes eram maiores e mais complicados e a estação de EI Gorcel, embora tardenoisiense e com uma
utens il agem microlítica, possuia já pedra polida, que nua existe em
Muge" (7) .
Aparece-nos portanto de misturo com uma indústria microlíti ca, de fócie s tardenoisense, um vaso cerâmica manual, cozido ao
sol, de fundo hemisférico, e muitos outros fragmentos de argi la,
(6 1 H. OBERM AIER : " EI hombre 165il", Memor io núm. 6 de lo Comlsión de
Inve$Ilgoclones Poleont ológicas y PreniSlôrlcos, 2.- ed ici6n, Modrid, 1925, pógi no 395.
m A. A. MENDES CORREA: Cp. c it o in /'1010 5, póg. 5.
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6
F. RUSSELL CORTEZ
seco ou endurecida 00 sol e 00 fogo que parece ter servido para
proteger, revest indo, os paredes feitas de restos vegetais. Foi ta mbém encontrado uma col he r de cabo curto, feito no mesmo borro
do 'leso hem isférico a t roz descrito, semelhante o ou t ros encontrados nos An tas do Beiro Alto e do Alente jo Orien tal (fig. 1, núm. 3) .
~ com poravel ó q ue foi encon trado e m Los Penas de los Gi tanos
(Mon t efrío, Granada) e hoje se encon t ro no Museu de Granado (8).
A colhe r aparece igua lmen te na Anta do Rio Torto, Bei ro A lto,
num espólio essencialmen t e neolít ico (9). Aparece igua lmen te nos
silos de Campo Real, no Andolucio ( 10).
A colhe r de cabo curto é t ípica do Neolít ico Ibérico e do oeste
do Europa, fi gurando en t re os ob jectos que o ligo ós cu lturas neolítica s mais a ntigos do Va le do Nilo (I I ).
Para Gordon Chi lde (1 2) o civilizaç:io Tardenoisense, é tes tem unhado pelo aparecimen to de silices pigmeus, ou m icrólitos en genhosamen te tal hados segundo formos geomé t ricos regulares,
u tilizados por populações que acam pavam exclusivamente em terrenos arenosos ( 13 ), em parte consolidados e revest idos de mo to
(14), obrigando-se em cabanas construídos de vimes ou romar ia revest ido de borro, e nterrados parcialmen te no solo. Deste revest imento apareceram inúmeros testem unhos no excavaçlia dos can-
(8) J. EGUARAS IBANEZ: "Musl!O Arqueológ ico de Gronado. I, De lo Memorio", Memorios de los Museos Arqueológicos Provinc:loles, 1941 (Extrcx:tosl, Vol.
VIII, Modrid, 1948, pâg. 127, est. XXXVII, 9.
(9) MU5eu Etnológico de Belém, num. 9.2BB.
(101 G. e V. LE ISNER: " Oie Megolithgrober der lberlschen Holbln5el: Der SÜ_
den", Bond 17, Remisch-Germonische Forschungen, Berlin, 19'1;, e$!. 102, A,
13_2.
J. SAN VALERO APARISI; "Lo Penínsulo Hi$pÓni co en el murn;lo neolitlco".
Noto num. 3 do Seminorio de His torio Primitivo dei Hombre, Modrid, 194B, p6gino 31.
J . DECHELETTE; "Monuel d'Archéologie", I, Porls, 1924, p6g. 555, lig. 202,
1-5.
J. PHILIPPE; "Cinq onnées de foumes ou Fort Horrouord", Rouen , 192"1 , MI.
XXVI, 1, 3, 6, 13.
O. MENGHtN: "Et origen dei puebl0 dei ontiguo Egipto", Ampurtos, IV,
Barcelona, 1942, págs. 25-41 , est. VI.
(111 G. e V. LEISNER: "Antos do Conce lho de Reguengos de Monsoroz. Mote riois poro o estudo do culturo megolitico em Portugal". Institulo poro o AliO
Culturo, Lisboa, 1951 , pág. 100.
(121 v. G. CH ILDE: "L'oube de lo civilisolion européenne", 4 .- edic., Poris,
1949, p6g. 24 .
(13) J . G. D. CLARK; "Tne Mesolilhic Selllemenl 01 Nortnern Eu rope", Combridge Uni,,~s i ly Preu, 1936, pâgs. 190-194 .
(141 V. G. CH ILDE: Cp. eH. ln note 12, pago 24.
-
86 -
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ASPECTOS DO NEOLI1'ICO DE PORTUGAL
7
cheiros de Muge, constitu idos por argila endurecido, com moldagens de vegetais incorporados na posta.
O Tardenoisense teria a sua origem no recuo para o setentriiio
no f im da época glaciário, de emigrantes afugentados pela dessecaçiio do Sahóro. Conservariam a sua forma de viver primitivo; nos
seus instrumentos perduraria a t radição microlíti ca, embora no sua
visinhonço existissem populações com uma econom ia de caracter
neol itico, onde se conhecia jó o técnica do produção de alimen tos.
O aparecimen to de vasos cerômicos neolíticos, em Muge o nas
Areias Altas, Porto, num meio indus trial de caracter Mesolítico ou
Asturiense niio é ca so úni co. Podemos encontrar inúm eros paralelos em 5auveterre (Lot -e t-Goronne) foram encon trados mi crólitos tardenoisenses associados com cerâm icas, decoradas com os
dedos, e, pontos de flecho (IS ).
Certos tipos tardenoisenses - t rapézios e crescentes- de uso
corrente entre estas popu lações do Peninsula Hispânica, da França
e da Rússia Meridional, podem denotar a absorção dos caçadores
desta época petas popu lações produ toras de. alimen tas. O micrólito
niio deve pois ser tomado como si nónimo de Mesolíti co (16) .
Consequentemente e 00 que parece, uma pa rte dos estra tos de
Muge, com os seus leitos de pouca regularidade, ou dispostos em
camadas discordantes, estiio já ma t izados com elementos de Neolítico, chegados dos zonas costeiros da Mediterrônea, com cerômi ca; comporor o vaso e dema is indústrias com os materiais da Càva
de lo Rabosa ou dos Melones de la Vall torta (Albocócer, Costellón)
( 17) .
Este achado de restos cerâmicos em Muge vem esclarecer o
época transitivo Mesoli t ico- Nealítico no Península, confirmando
os elementos entrevistos no excovaçiio do Cueva de 10 Cocina (Dos
Aguos, Valência ). onde o seu nivel I (18) forne ceu cerômica fei to
à miia, geralmente muito tosco, de pasto ma l preparada e de cocçiio defeituoso e que pelo seu espólio foí incluído na Neolítico
inicia l, no entonto, culturalmente mais rico que o de Muge; aquí
nlio foi encontrado qualquer instrumento litico polido. Nes ta gru ta
{151 L. COULONGES: "Les Gisements prêhistOf;ques de Souveterre- Ia- Léma nce {Lol-et-Ga,annel", Archives de l' Ins titul de Palêonla logle Humoine Mémoire
14, Por;$, 1935, pOg. 25.
'
( 151 v. G. CH 1LDE: Cp. ci to ln nOla 12, póg. 25.
(17) M. ALMAGRO: Cp. ci l. in nola 2, pog. IS, / Ig. 11.
( 18) l. PERICOT GA RCI A : " La cueva de la Coci na (Dos Aguo$ ). Na ta prelimino''', Archiva de Prehisrarla Leva n tina, II , 1945, Valencia, 1946, póg. 39-71 .
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F. RUSSELL CORTEZ
aparecem tombém pontos con pedúnculo lateral to l qual no Cc·
beço do Amoreira e no Cabeço dos Morros.
Segundo Pericot: uEI paralelo con Muge es tentador . Pera lo
cronologia de SU5 concheros es difícil. En este momento diremos
5610 que coso de oceptorse el paralelo, el Cobeza de Amoreira seria el equivalente de nuestro5 niveles media y superior" (19) . Confirma -se assim que os começos do Neolítico transcorrem no Penín su la, dentro dum mundo mesolitico de pequenos caçadores, o qual
perduro no instrumenta l que continuará cons t ituindo a base indus t riai em que se apoia o Neolítico, durante larguíssimos anos (20) .
O Neolítico inicia l de Muge seria pois representado por cerômico grossei ra, fei to à mão, sem ornamentação, ut ilizando como
material plóstico o barro impuro loca l. Nua aparecem mu itos res·
tos de inst rumentos de pedra polido. Entre os achados de Concheira
da Moita de Sebast ião encontraram ~ se igualm-ente fragmentos de
argila de cabana e restos de louça grosseiro ligeiramente orna ~
mentoda (2 1).
Des te mesmo lugar são os ossos polidos, placas de xisto com
cavidades pouco profundas, obtidos por rataçfia e calhaus arredon ~
dados e muito bem polidos numa dos extremidades.
Esta fase novo dum Neolítico, integrado num meio industrial
de forte tradição Mesol1tico, é ampliado pelo consideração do es ~
pólio do sepu ltura de Vale dos Lages, onde, entre os micr61itos tra ~
pezoidais, jó evoluídos, nos aparece um instrumento polido neolí ~
tico (22) . E mais uma vez verificado a perduraçfio de elementos ar ~
caicos entre populações que, influenciados por novos descobertos,
continuam vivendo a sua primitiva cultura. No entonto, nllO deixo ~
mos de referi r o forte sobrevivência dos micrólitos que chega ó cul ~
turo dos sepúlcros megalit icos do ocidente atlõn t ico, na seu perío ~
do mais remoto ou recen te.
Passar ~ se ~ io o mesmo que em Campigny (Seine inférior) outrora
indicado como uma estaçfio~tipo de Civilização Mesali tica, que é
agora considerado como o estabelecimento característico dos iní ~
/19 ) L. PERICOT GARCIA; Cp. d t o in not o 18, pag. 61 .
(20) F, JORDA CERDA e J. ALCACER GRAU: " I.os pinturos rupntres de Dos
Aguos (Volendo)", Serie de Trobojos Vofios dei S. I. 1>" nÚl'l'l. IS, Volenclo, 1951.
(2 1 ) N, ABERG: " Lo Civil i$O tion Eneolit hique dons lo Pê nir\$ul e IbériQue",
UppSG lo, 19 21 , !'
eóUlos de Oto" , ButUel; de l'As'iOCioció Cotolo no d'Antropologío Et nologia i P r e ~
hlslOrio, ...01. III, Borcelono, 1925, pág. 117~146.
'
-
B8 -
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ASPECTOS DO NEOLITlCO DE PORTUGAL
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cios intrusivos do Civilizaç:\o Neolítico occidental na França, tal
como poro a Dinamarca é a cultura de Erteboelle.
Paralelamente com a cultura micróliti ca dos concheiros de
Muge, desenvolve-se 00 norte do Douro uma outra cultura, o Asturiense .
Nesta época o utensilagem de tradição paleolítico, feita de
osso, é reduzido, sendo 00 contrário, numerosos os artefactos chamados picos : si ngelos godos trabalhados unifocialmente e mais ou
menos aguçados, term inados em ponto e que deviam servir, principalmente, para destacar dos rochedos os moluscos constitu t ivos,
quase exclusivamente, da alimentação destas gentes.
Com estes ins trumentos aparecem, em alguns cosas, desperd ícios do casinha dos seus usuórios e o suo situaç1io denoto uma habitação 00 ar livre, vida somente possível dentro de um clima mais
quente, não s6 que o dos anteriores têmporas paleoliticas ou epipaleolíticos mais também igualmente que o do norte do Europa,
onde decorre a Mesolíti ca II (23). Pelos mesmas considerandos se
conclue que tal clima seria ainda mais cálido que a actual.
Supõe-se que, nes tas regi ões do noroeste peninsular, o indústria do Paleolítico inferior, do tipo de machadi nhas, persiste e não
quebro a continuidade durante os tempos mesolítiCos. Ao que parece, estas populações ficaram isolados e qualquer mudança climótico modif icou o sua formo de vida; volvem o ser principalmente
recolectores e o suo alimentação fico quasi que circunscrito aos
moluscas do litoral. Serpa Pinto acreditou no origem portuguesa
desta cultura, onde, no norte, se acantonaria uma população marginai, descendente do paleolita remoto, popu lação que mantería
alguma dos suas técnicos indus triais. Pode relacionar-se o godo
talhado em bico do Asturiense com os an tiguos ins trumentos paleolíticos.
Es te conjun to cul tural aparece-nos, nos seus níveis superiores,
mi sturado com cerâmica grosseiro, de paredes grassa s e sem decoraçiia, o que nos levo o supor estarem já estas populações em re lação com o Neolítico de tradição mediterrânea.
No entonto, esta cultura, o avaliar pelos minhas excavações
do povoado dos Areias Altas (Porto), perdurou 00 longo de todo o
Epipaleoli ti co, chega mesmo o um Neolíti co avançado, já conhece-
(23)
P. BOSCH GIMPERA : Cp. cil. in no ta 3, pág. 30.
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dor do metalurgia, porém com poucos instrumentos de tolhe microlítica, sem armas polidas, sem pontas de flecho de tolhe bifa cial.
Constatamos assim que a introdução das invenções neolíticos
deve ter seguido um caminho marginal e moritimo (?) e que só a
cerâmica é novidade, uma vez que, quer nos cancheiros de Muge,
do Porto, dos Contabros e Asturios, não nos aporecem instrumentos
líticos polidos.
Defende Martinez Santo-DloUo o existência de um Neolítico
an tigo caroc ter isodo por uma indústria mu ito primitivo, correspon -
dente o um Neolítico de machodi nhos, pertinente 00 com plexo
compinhiense, porolelo a um outro Neolítico, que se poderio chomar copsiense com a sua indústria microlíti ca de silex, que se ajusto 00 complexo cultural de lascas pequenhas e lóminas de traba lho fina e cuidado de farmatos sumamente especializados, incluidas
no denominoç50 vaga de tardenoisense (24) .
Pouco sabemos acerca da chegada dos primeiros gentes conhe cedoras do cultura agrícola primitiva, ou antes, se preferimos, da
exponsf1 dos costumes que os levam a esta formo de economia. E
o
uma quest50 por agora difici l uma vez que grande porte dos ma teriais recolhidos, não O foram e em muitos casos, com um método
assaz perfeito, pelo que nos temos de socorrer dum arrumo provi sório, estabelecendo para tal uma sistemótico tipologico, sempre
defeituoso por subjectivo.
No momento não nos podemos pronunciar sôbre o derroto seguido por estes elementos cul turais trazidos, provóvelmente, por
povos de tipo levantino que procuravam, tonto os terrenos marginais dos rios (Muge e Areias Altos) (16m. r, núm . 2). como as alturas de foci! defesa, do interior (Figueiró do Granja, Cargo do
Maga) . No zona graníti co do cen tro de Portugal niio aparecem os
gru tas pelo que não 5:10 habituais estas formas de residência do
neolito. Com o desenvolvimento do estudo dos restos do Castro de
Figuei ró da Granja ou do Cargo do Mago melhor conheceremos o
viver coléctivo destas populações.
No entanto, a agricultura de enxada seria ainda reduzido; perdurariam os hóbitos caçadores e o recolecção r.onsti tu iria o prin-
J. MARTINEZ SANTA-OLALLA: "Sobte el Neolitico ontiguo en Espa_
Atlo nlis, Actos 'I Memorios de lo Sociedod Espanolo de Antropologlo. Elno_
grofío y PrehislOl'io, 1101. XVI, Madrid, 1941, póg. 100.
(14)
no",
- 90 -
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ASPECTOS DO NEOLlTICO DE PORTUGAL
11
cipal base económ ico. Pelo que sabemos, coexistiriam nesta regi:lo
interamnense (Tejo-Douro) duas civilizações distintos: uma de
agricultores, outro de postares, de trad ição vetusto; ambas utili zavam a caça e a pesca como uma das suas bases para a obtenção
de ali men tos.
Fig 2
A perduraçuo no povoado das Areias Altas de instrumen tos de
tipo Asturiense (fig. 2), associados a cerâmicas dum Neolít ico fi na i, ou princípios do Bronze I (fig. 3), pode indicarnos a perduraÇ:IO local de populações recolec toras, bem ali men tados, cujo loca lização nâo impunha aqualquer razuo que a:i abrigasse a modificar
grandemente o suo economia. Se o aparecimento de moendas nos
indica já o cu lti vo de cereais, o sua topologia litoral, numa costa
rochoso, abundante de mariscos e pescado, não os obrigava a lan çar mão da pastorícia em larga esca la . Tal situaçua não implicava
uma disciplina austera como o da vida em aglomerados. Ao cont rário os populações dos plana ltos da Beira Alta, representada pelas primeiros camadas do Cargo da Mago e do Castro de Figueiró,
tinham que basear a sua ali men tação na coça e no domesticação
-91-
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12
F. RUSSELL CO HTEZ
dos animais, além do cultivo de cereais, pois que nes tes povoados
igualmente nos apareceram pedras de moinho.
Sobre o ponto de visto económico podemos consideror os habi tantes do povoado das Areias Altos, como pescadores e agricultores (com réplica actual nos popu lações de Aver-o -Mor, Aguçodouro e Apúlio) que se 91imentavam de moluscos do litoral (Potellos e Trochu $ sobretudo) e de cereais farinodos e cozidos em pe dras enruborescidas.
Entre os achados, a cerômica tem especial importância . Es ta é
fig 3
sempre o testemunho seguro e ligado mais intimamente o uma
cultura. Desempenho um popel essencia l, n:ia só porque t'e mos de
apreció- Ia como objecto de uso diário, pelo suo fei tura, formo e
decoração, mos também quai s os processos técnicos segu idos e est ilo art ístico em que podem ser agrupados. Por consequência, documento-nos os e leme ntos cu ltura is imprescindíveis poro o apreciação dos relações que exis tiram entre duas culturas e suas in fluências recíprocos.
A cerômica dos Areias Altos tem no seu con junto um carócter
que me levo o inclui -lo en tre as cerâm icos neolíticos, em bora dois
rojões de fundição nos testemunhen já un conhecimento do técnico
me talúrgico . Ser iam pois já contemporâneos do eneolí t ico (Bronze
I) como os vários vasos cón icos (fig. 4, nÚm . I ) e outros de fundo
plano (fig. 4, núm. 2 e 3) porecem comprovar.
A existência destas cerâm icas toscas, lisos, com rel evos jun -
92 -
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ASPECTOS DO NEOLITICO DE PORTUGAL
13
to dos bordos ou em seguimento dos asas que são tubolores e ho rizontais (fig _ 4, núm . 5), descobertas com um instrumental de ti pologia e técnica asturiense (fig . 2 e 3). bem pode corroborar a
tese de Pericot (25), defendendo o existência de uma fase protoneolítico, no Levante, com cerâmica lisa, anterior à chegado da
cultura hispano-mauritano, à qual é peculiar à cerômico profusamente decorado.
Rastreamos certos contoctôs entre algumas cerâmicos das Areias Altas e outros descobertas na "Cueva de la Sarsa" (Bocoirente,
Valencia) se compararmos do técnica constructiva dos asas que se
prolongam pelo colo do vaso (tipo 4 de formo das vasi lhas de NeoIftico Hispano-Mauritano) por dois cordões em relêvo (26).
Alguns destes vasos, cujo golba tem por prot6tipo a dos odres
anteriores, apresentam o seu fundo hemisférico mais aplanado.
Em alguns exemplares chega a ser completamente plano (fig. 4,
núm . 2 e 3) .
Pode dizer-se que a fragmento de um vaso de pas to escuro, mui to polida, de fabrica cuidado e rica ornamentação e de galbo co renada, talvez nos possa testemunhar a influência dos neoli tas
hispano-mauritanos (fig. 4, núm. 7).
Ressalto-se que entre os cerômicas recolhidos, nas habitações
deste povoado, apareceram numerosos restos de vasos de perfil
ovoide (?), cujo fundo era sustentado por um pé cónico, de anel
basal, com certa semelhança oos que são abundantemente encon trados na cultura predinóstica de Maadi . Este anel basal encontra se também em Beni -Solame; no entanto são mais raros no Egipto
Superior (fig. 4, núm . 6).
De momento SÓ encontramos minguado paralelo entre es tas cerómicas de anel basal e perfil ovoide e um vasa cóni co de anel basal encontrado na gruta de Porto-Covo, O norte de Cascais (27).
Nos vasos dos Areias Altas aparecem os mamilos ovalados dispostos paralelamente a os bordos, o que parece indi car destinarem se o fins práticos, facilitando o suspensão, embora alguns sobres -
(25) L. PERICOT GARC IA, Prólogo in F. JORDA e J. ALCACER GRAU : " Lo
Covocho de UOIO'S IAndilloJ", St-rie de Trobojos Vorios dei S. I. P., nUm. 11, Valend o, 1949, pág. 7 .
126 1 J . SAN VALERO APARI SI: "Lo Cupvo de lo Sorsa (Bocoirenle-Volen_
~~ I'; '. Serie de Trobojos Vorios dei S. I. P., num. 12, Va lencia, 1950; esl . III, I ;
~
127) A. DO PAÇO e M. VAULT IER: "A gruta de Parla-Covo" , Publicoçaes do
Conoressa lusa- Espanhol do Porto, I. VIII , Porto, 19<1 3, fiO. 4, num. 12 .
-
93_
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14
F. RUSSELL CORTEZ
saiam tão pouco que podemos consideró -Ios an tes destinados o
cumprirem me ras funções ornamentais (fig . 4, núm . 1 e 3).
Todos estas saliências, bem como 05 asinhas perfurados podem
relacionar -se com os povos neolíticos. São frequentes no mobi! iorio
elós t ico das grutas portuguesas (28) . Aparece tal decoroç:lo em al guma dos Antas da Bei ra: Anta da Sobredo, Orca do Tanque, Orca
dos Antas, sendo no entonto ra ro o seu encontro , nas construções
mega liti cos dos demais regiões. A suo posição c ronológica, e a suo
atribui çiio 6s culturas neolíticas, é confirmado por se ter e ncontrado ce râ mi co des te ti po e m est ro tos mais baixos do que a cerômico companiforme (29).
Desta espécie de cerâmica há substanciol testem unho logrado
no exame dos espólios de sepu ltu ras e grutas do Peninsula e sim ilares estações do Oeste europeu (30) .
Para l eisner estes mami los têm um significado religioso quando vemos dois deles juntos, quer por baixo do borda, quer no porte
super ior do corpo do vaso (31) .
Os vasos pequenos esféricos que siio t ípicos da cultura dos an tas eneolíticas do Al ente jo e frequentes nos gru tas artificiais e
nos an tas da Beira Baixo, perto do rio Tejo, siia ra ros na cu ltura
mega lítico do Beiro Alto. A divulgação destes pequenos vasos, coincide de uma maneiro geral, com a da placa de xisto gravado.
O vaso esférico de maior tamanho (fig . 4, núm . 8) tem uma
(281 A. DO PAÇO, M. VAULT tE R e G. ZBVSZEWSK t : "Gruta do nascenle do
rio Almondo", Trabalhos de An tropologia e Etnologia, vaI. XI, fosco I, PôrlO, 19<17,
esl. VI, IX e X.
(29) J. MALUQUER DE MOTES: "Lo estrol lg. ofío arqueológico de lo cuevo
de ToroUo (Lérida)", AmpuriO$, VI, Barcelona, 19<1'1, DÓg. '13.
(30) E. JA LHAV e A. DO PAÇO: "EI cOS lro de Vi lonovo de San Pedro", Aclos y MeffiO( io.' 1e lo Sociedod Esponolo de Antropologia, El nogro Ho y PrehiSlorio,
I . XX, Madrid, 19'15, póg. 55.
S. VILASECA ANGUERA: "los hoUozgas prehislÓf kos en Arboll (Provincio de
Torrogono)", Ampuri os, II I, Borcelono, 19'1 1, p6gs. 4 5-62 ,
J. MAlUQU ER DE MOTES: Cp. ci to in no to 29.
G. e V. LE ISNER: Cp. ci l. in nOlo 10, esl . 19, 23 (Los Mil1oresl.
J . PHILIPPE : Cp. dI. in noto 10, esL XXV, 25.
P. VOUGA: "Le Nêolithic lacustre oneien", Recuei! de Trovoux publiés por lo
Fcx:uhe des Lellres $OU$ les oUSpkes de lo Societê AcodemiQue. neme foscicule.
Neucho lel. 1934 . esl. XIV.
C. SCHUCHHARoT: "Wesleuropo 015 alter Kul turkreis". Silzungsbe.-ich te de<"
Kanig!. Preuss. Akodem ie der Wissenschohen, 1913. Bond 17. pag. 1'10. fig . 7
(Pornk, Nantes).
J . HAWKES: "Aspe<:fs of lhe Neol"hic onel Cholcoli lhk Periods in Wes tern
Eu rope", in Antiquity, vaI. VI II , 193'1, pag. 24 _'1 2.
(31) G. e V. LEISNER: Cp. cil . ln noto 10, p6g. '190.
_ 94 _
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AS PECTOS DO NEOL IT ICO D I~ PORTUGA L
15
maior ocorrência nas Antas do Beiro Alto (TelhaI, Medo, etc .), onde, acompanhado por um vaso de corpo quase cilíndrico e de fundo
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plano que também nos aparece no povoado das Areias Altos, determino um aspecto da indústria cerâmico que se afasto bastante
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16
F. RUSSELL CQRTEZ
da do Alentejo. A decoração destes vaSOs do Beiro, com motivos
ornamentais semelhantes oos dos cerâmicos das grutos, aplicados
conforme a técnica próprio daquela cultura reforço o impressão
de Leisner de que o suo origem poderio ser procu rado no Neolítico
regional. Em vórias antas do regiflQ o vaso esférico, d~ tomanho
maior, aparecendo quer espólios de transiçflo, quer nos eneolíti cos, estabelece uma li90ç[10 com o cultura dos povos neolíticos,
sobre tudo quando tais vasos s:io pin tados o almogre.
Estes vasos de barro cinzen to ou vermelho, cOQerto por um engabe vermelho vivo, ton to interior como exteriormente, const ituem
o grupo do ce râmico neolitica de ol mogre, e o suo forma deduzido
dos vasos inte iros ou dos seus fragmentos é quase exclusivamen te
o es féri co.
No mobiliário clóst ico das Areias Altos, os pés cóni cos, de anel
basal, per tencentes a vasos ovoides (?) (fig. 4 , núm . 5), são também a lmagrodos, tonto por den t ro como por fora ~ muito possível
que um dos vasos esféricos, de colo levemente es trangu lado (fig .
4, núm . 4), fosse igualmen te pintado a a lmagre, o que tem pora leias no espólio do an ta do Olival da Pega (Reguengos) (32) .
Na Beira Alto encontramos exemplares desta cerâmica neolltica na Orca dos Juncoes (Quei riga) (33) . Amorim Girão refere cerômicas pintados de vermelho entre o espólio da Caso do Orca (Molhada de Combarinhol, não longe das nascentes do Alfusqueiro :
" ) ponta de se ta de si lex (est. nÚm. 3 ) de base biconcavo e numerosos fragmentos de cerômi ca fabricados ou com barro grosseiro
da localidade, algumas vezes pintado de vermelho, ou ainda com
barro mais fino. Um destes últimos era orna mentado" (34) .
Nos a rredores de Vi seu, em T ravoçós, no Momo ltar de Vale dos
Foxos, apareceu igualmen te um vaso de fundo esférico de borro
vermelho (35) .
Esta cerâ mico olmagra, pert inen te 00 período neolítico, é carocterisoda por os vasos serem cobertos por uma pintura uniforme
de ocre vermelho (36). Tem sido, posteriormen te mu ito estudada
(32) G. e V. LEI $NER: Cp. d t. in IlO ta 11 , póg. 69, esl. XXV II , 6.
133 ) Museu Etnológico de Belem, num. 95180, sego LEI$NER : Cp. d t. in no to
11, pág. 73.
134) A. DE AMORIM GI RAO: "Ant iguidades pré-históricas de Lofoes", Coimbra, 1921, póg. 49.
(35) J. COELHO: "Natos Arqueolâgicos", Beiro Alta, VI, plIg. 61.
(36) M. GOMEZ MORENO: "La cerómico primi tiva ibérico", Homenagem o
Martins Sarmento, Gu imaraes, 1933, plIg. 125-136.
_
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ASPJ<:t,"TOS DO NEOLlTlCO DE PORTUGAL
17
pelos arqueólogos espanhois quer poro determ inações cultura is,
quer cronol6gicos, conside rando-a como um dos tipos gu ias do época do Neolítico hispano-mauritano (37) .
Leisner acentuo que sobre o expansão do cerâmico olmagrodo
em Portugal não podemos, por agora, apresen tar ideias definitivos.
Parecia niia ser muito vulgar nos antas de corredor. No entonto,
"par t indo do espólio do Anta do Poço da Gateiro (Neolít ico puro).
no qua l esta cerâmico se encontrava por primeiro vez , documentado de uma maneiro incontestável, podiomos, a póz uma revisiio
minucioso de todos os cocos, reconhecer uma divulgoçiio considerovel desta indúst ria no concelho de Reguengos. Tal revisiio devia
estender-se o todo a cerâmi co do cu ltura megalítico. Dois fac tos
dificultam, no entonto, o estabelecimento de um quadro completo
daquela divu lgação. Em primei ro lugar temos vários provas de que
os cocos expostos à intemperie perderam os camadas superiores" (38).
No Alentejo apareceu cerâmico des te tipo encorporado em espólios que, sob o ponto de visto cu ltural , pertencem 0 0 Neolítico
puro, 00 Neolí t ico de cerâmico avançado e 00 Eneolitico (Bronze 1) .
Baseando -se nos elementos entrevistos no exploração met6dica
dos Antas de Reguengos, Le isner opina que o técnico do pi ntura
o almagre niio é oriundo, nem do Neolít ico dos pequenos d61menes
alen te janos, nem do círcu lo mais vas to do Neolítico da Europa ocidental, mos que os suas relações se encontram no sul e no leste
da Penínsu la .
De acordo com o exposto, e entre outros conclusões, inclue o
cerâmico de almogre no círculo cultural do ídolo Almeriense, con sequentemente ligado com os estratos do segundo período de AImer;(I, onde es te t ipo de idolo nos aparece já em espólios neolíticos.
Idolo este que parece es tar em intimo ligação com todo o con junto
137 ) J . Mi\ RTINEZ SANTA -OLALLA: " La fecho de la cer6mica a la almagra
cn cl Neolít ico Hlsponomaurltano", Cuadernos de Historio Primi tivo, Ano III,
numCfO 2, Madrid, 19<18, pág. 95 O 106.
J . SAN Vi\LERQ APAR ISI: Cp. ci t. in nota 10.
J. Mi\RTINEZ SANTA _OLALLi\: "Cereoles y plon tas de Ia cultura Ibero $Ohadana en Almiza'Oque (Almeda)", Cuodemas de Historia Primitivo, Ana I, n\unera 1, Madrid, 19<16, pág. 35-<15.
B. SAEZ MARTIN: " Nuevos precedentes chipr iotos de los ;001 placas de la
0$
cult ura iberosohorjona", Actos y Memorias de la Soci~od Espoiiolo de Antropo_
logia, Et nografia y Prehiltoria, I. XIX, Madrid, 1944, pág. 13<1.
(38) G. e V. LE ISNER: Cp. cit. ln nota I r, póg. 73.
_91_
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F. RU SSELL CORTEZ
do e mprego artíst ico do cor vermelho (39) . A suo efígie aparece
como um dos motivos principais no pin tura megolitico. Tal depen dência explicaria o aparecimento do fragmento do vaso de cor vermelho, com umo pequena asa, na Orca dos Juncaes (Queirigo), como sa bemos ornamentado de pictografias vermelhas, de tipo esquemóti co e ascendência Levan tino .
A presença de machados, enxós, mi crólitos e louças do ti po
neolí t ico, nas an tos do Alentejo Orienta l e do Be ira Alto, bem
ates to o ligação da cultura megalítico com o populaçiio neo líti co.
Encontram-se em mui tas antas do Península resíduos do indústria
neolítico, tais camo micróli tos de ti pos pos teriores. Em muitos a ntas obundpm porém micrólitos de t ipos primitivos, pelo que Leisner
pensa que os de ti po posterior não revelam sómen te umo sobrevivência de formos, mas de uma par ticipação activa do povo neolí ·
tica, embora par falto de ordem estra t igrófica, seja, na tura lmente,
impossível dizer quais fora m os límites de tal par t icipação cultural.
Nos provincias do norte de Portuga l e no Golicia, predomina m,
em algunas zonas dolmenicas, os machados Je secção rectangu la r,
alcançando no Beira Alto o percentagem de 95 % (40) . Comparando a difus:i o do machado cilíndrico com o dos tipos arqu itec tónicos, acentua Leisner (4 1) uma certo relaç:io entre o divulgaçflo
do a nta com corredor de dois grandes es teios e machado ci líndr ico.
No litoral Ocidental de Portugal o machado cilíndrico estó bem
documentada nos grutas na tura is e ar tif iciais, aparecendo tombem no região dol ménica da Figueira do FÓz .
Em todas as regiões dalmenicas onde prevalece um machado
de secção rectangular, escaceia m as enxós. Igual aspec to é notifi ·
cada pelos investigadores da castro de Vila Novo de S. Pedro (421,
os quais, então, confrontam o indúst ria deficien te de ped ro polida
com o perfeiç:io dos ob jectos de sílex, aspecto tam bém apresen tado pe los Orcas da Beiro Alta. Poderemos ligar es te fac to com o
modo de viver des tas populações, certamente baseado no caço.
Pelo can trório, na órea litoral onde prevalecem os machados e
enxós de forma perfeito e bem acabadas, simul tâneamen te com uma
(39) G. LEISNER : "Oie Molereien des Dólmen Pedro Coberto" , IPEK, 193<1 ,
Berlin_leip:r.ig, 1935.
140 ) G. e V. LE ISNER: Cp. cit o in noto 11 , póg. 49.
(41) G. e V. LEISNER: Cp. til. in no to II , pógs. 32 y 49.
(42) E. JAlHAY e A. DO PAÇO: Cp. ci t o in no to 30, pogS. 21 y 22.
-
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ASPECTOS DO NEOLlTI CO DE rOlrr UGAL
19
indúst ria prim it ivo de silex, sem re toque facial, su rgem os ilações
do exis tência de um mais generalizado a manho da terra .
Podemos comparar o pervivência de indús trias remotos, com
ceróm icas de tradiç:l0 neolí t ica ligadas a outros do Bronze I, que
ocorre no povoado dos Areias Altos, com o espólio encon trado, numa suma rio pesquiso, em varias estações do Sahóra Espanhol (43).
onde, com uma indús tria de t ipa Neolítico de trodiçilo capsense,
encon t ramos cerâ mica do Bronze I. Surgem os mesmos problemas
susci tados pe lo convivência de uma indús t ria Ht ico remoto con jun ta men te com cerómicas avançadas (44) .
A posiçi'i o dos m icrólitos no Anta do Poço da Ga te iro forneceu
a Leisner (45 ) uma base para o cronolog ia rela tiva de alguns ti pos : "O micrólito em forma de meio lua encontra do no fundo do
cómaro pertence, com certeza, a uma dos pr imei ros inumações,
00 posso que o micrólito de base rec ta, no corredor, pertence à úl timo inumaçi'io. Tal fac to coaduna-se com a pasiçi'i o cronológi co
a tribuído aos micrólitos em for mo de segmento de circulo. Em Portugal apareceram em vórios estações mesolíticas (46). em grutas
neolí t icos (41) e ainda em grutas de espólio parcial men te eneolítico (4B) . Saíram ta mbém de dólmenes pri mitivos da regii'io de
Mon temor-a -Novo, sendo, porém, ra ra a sobrevivência deste t ipo
em an tas de épocas posteriores, das quais apenas se podem cita r
a lguns exemplares" (49) .
"No indústria mais prim itivo incluem-se ainda os trapézios do
tipo 2 com os lodos de com primento igual, sobretudo os de tamanho pequeno, traba lhados em loscos de focos fi nos e est rei tos, típicos do Neolí t ico mais an t igo" (50).
(43) M. AL MAGRO BASCH: " Prehis torio dei Nor te de Africa y de i S6hora
Espana l", Instit ut o de Es tudios Africanos, C. S. de I. C., Barcelona, 1946, póg. 64
e fig !. 17 o 20.
(441 Tal fac to surge, igua lmen te, em vórios an tas do Alentejo; Vid. G. e V.
LEISNER. Cp. d t ln no ta II; E. JALHAY, A. DO PAÇO e L. RIBEIRO: " Es toçoo
Prehist Óf ico de Montes Clo.os", Revisto Municipol, nÚm. 20 e 21; e E. J ALH AY:
"Uno fase inreresonle dei Bronce inicia l por tugués", Ampurios, IX_X, Barcelona,
1947 _1948. pgs. 13 -2 0 e esl. I-VII.
(45) G. e V. LE ISNER: Cp. ciL ,n no to II, pág. 56 e 57.
(461 Moita do Se:bostiao, Cobeço da Arruda (Muge).
(471 Gru ta dos Carrascos.
(481 Gruta do Poço Velho (Cascaisl, Gruta do Go li nho.
(49) Anta do Capelo, Alentejo; Anta do Rio Torto, Penedono (8elro Al ia ).
(501 G. e V. LEISNER; Cp. ciL in noto II, pág. 57. Poro 05 outores estes
m icrólil OS neoliticos diferenciam-5e do lipo semelhonte dos concneiros por terem
05 lodos do trapézio noo quebrados, mos rectilíneos.
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20
F. RU SSELL CO RTEZ
Es te tipo rareia nos antas já con temporôneos do Bronze I, no
en ton to foi encon trado em várias antas da Beiro Alto : Anta do Rio
Torto, Orca do Tanque, Orca do Cunho Baixo, Anta de Pedrei to
e Mamal tor de Vale de Faxes; contrariamente escasseio nos antas
alen tejanas. Da região de Pon te do Sôr (Dolmen de S. Bernardo)
exis te no Museu Et nológico de Selem um exemplor do tipo referido
e como Leisne r por lá en treviu vórios pequenos dolmens que pode riam pertencer 00 tipo primit ivo, espero aquele douto Arqueólogo
que o fa c to de o micrólito desta forma andor ligado 00 dolmen pri m itivo se ja con firma do nou tros regiões do Alen te jo Ocidentol.
"Estes ti pos mais primitivos, oos quais se jun tam os tri ângulos
com o lodo in ferior a longado e os peças de pon ta lateral, têm, além
~ 4t
FIg. 5
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\S\~~
--
de ana logias com o indústria dos concheiros portugueses, a fi nida des com o neolítico de tradiçiio capsiense e com a oran ie nse, da
Afr ico do Norte" (5 1) .
Os tropézios com O lado superior ma is com prido (t ipo 3), e os
t rapézios de base recto (tipo 4), já mais evolucionados, têm uma
lorga d ifusiio e dilatado emprego. Aparece-nos em Muge (Cabeço
da Arruda) e no Beiro Alto, no Orca do Tanque, Orca do Velhal
(figs. 4, nÚm . 8 e fig . 5), e no Mamoltar da Vole de Faxas. Os
trapézios com enta lhe na base (t ipo 5), ra ros nos an tas de corredor alentejanas, foi també m encon trado nas on tos da Bei ro Alta:
(5 1)
G. e V. LEISNER: Gp. ci l. io nolo I I, p6gs. 57 e 58.
-
100-
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ASPECTOS DO NEO LlTlCO DE PORTUGAL
21
An ta do Rio Torto e Mendelim . O seu achado frequente na gruta 3
de Palmela pode sugerir um novo facto poro O estabelecimento de
relações entre o cultura de Palmela e as coevas populações da
Beira Alta.
Siio pouco vulgares no Norte e Cen tro serrano de Portugal os
silices que, pelo seu polimento lustroso dos bordos, possam ser considerados como elementos de foicinhas.
A divu lgaçiio destes elemen tos de foice prova per tencerem o
uma época de agricu ltura desenvolvido cu jos focos culturais temos
de buscar no orla litora l. A suo escossêz no zona peneplon6l ti co,
onde proli ferou a cultura megalí ti co, permite o iloçiio de que estas
popul ações construtores dos Orcas se dedicavam o acti vidades es sencialmente pastorís e, provóvel men t e, ainda no in ício do época
do Bronze se conservavam nas regiões serranos afastados do costa.
Em todas as regiões aqui citados o tipo de anta com corredor
de dos grandes es teios, poderio ter provindo de um Neolítico local
e marcor uma certo fase evolutivo da cultura megalítico que, em
regiões mais a fa stados dos correntes cu ltu rais provenien tes do li toral , sobreviveu até épocas posteriores. Naturalmente, tol teoria
é apenas hipotético e exige, poro a sua confirmoçflo, novos excavoções nos províncias do norte de Portugal. Devemos ainda mencionar que a lguns dolmens de Salamanca opresentom reminiscências deste tipo de corredor, que provavelmente foi levado de Portuga l para o Catalunha (52) .
A cerômica é por vezes muito tosca, de borro pouco puro e im perfei tamente cozido. As formas são mui to simples: escudelas hemis férica s ou t roncocónicas, vasil has cónicas ou quase ci lí ndricos
com o fundo plano ou arredondado. Quase que não súo ornamentados; quando decorados os motivos siio muito si mples e reduzemse o incisões pune ti formes mai s ou menos regu lormente dispostas,
linhas, unhadas e impressões digi tais, cordões com impressões a u
relêvos, im pressões cordiais. Faltam os asas que estão substituídos
por pequenos pegadeiros salientes verti cais, ou, mais raramen te,
horizon tais (Muge) e furados para a suspensão.
~ muito possível que a escovoçiio dos pequenos an tas, sem corredor, do Monte Mósinho (Penafiel), do plaina do Lodorio, sabron ·
(521 L. PERICOT GARCIA: "Los Sepulcros Megalíticos Calalane$ y la Cultura
Pi rena ka", Monografias dei Ins titUTO de ESTudias PirenakOS (C. S. de I . C.I, Pre.
hiST
orio y Arqueologia, 4, núm. general 3 1, Sarcelona, 1950, pag. 121 .
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cei ra ó Seixo (Vouzela) que con têm machados polidos ci líndricos
(facto raro no Beira Alto : região onde predominam os ma chados
rectangula res), nos forneço os necessórios elementos locais poro
o es tudo dos megálitos sem corredor, semelhan tes 00 do Alentejo,
Mont emor-a -Novo, Lavre e Conho (5 3) , Pav io (54), e no região do
Guadiana, he rdade de Font'Alvo (55 ).
Valioso contributo poro o esclarecimen to des ta questiiio fo i dado pejos invest igações de Leisner nos antas alente janos. Se niio podemos hoje admitir a evolução in interrupto de todos os tipos a rquitectónicos, desde "os dolme nes neolí t icos dI:! Al vao" a té os cistos
mega lít icos, incl uindo nesta evolução os sepulturas de cúpu la (56) .
Ta m bém n flO nos podemos apega r ó teoria inversa, colocando em
último lugar os pequenos dol mens como resu ltado duma degeneração; t lio pouco considerar o tholo$ orien tal como protótipo de
todo a rqu itec tura megalí t ico do Península (57) , basodos num progress ivo conhecimento dos cultu ras Nor te Afr icanos e do Próximo
Orien te, invest igações que permitem inseri r os cu ltu ras H ispõnicos
em circulas culturais cada vez. mais vastos.
A teoria de uma dependência absolu to do cultura megalít ico do
Orien te é defendido por Martínez. Son ta -Olalla, que considero os
sepu ltu ras de cúpula do sudes te de Espanha como o foco mais ant igo e a origem de toda evoluç:lo megal ít ico. Daniel , dis t ingue duas
linhos evolu t ivas uma ogra ngendo a s sepul tura s do corredor e li ·
godo à tholos, outra formado pelas sepu ltura ~ de ga leria (58).
O quadro cultural , nos seus a spec tos básicos, confirmo o impossibil idade de estabelecer uma unidade en tre os povos cons trutores dos tholoi e os dos ant as. O povo mega lítico dos regiões mais
e levados e dis tanciadas do li tora l, man teve sem pre um hobitot
igua l ao típico dos primeiros povos neoJi t icos do Pen ínsu la, prováve lmen te em consequência duma ac t ividade pastori l pri mitiva .
Após um curto fl oresci men to dos teorias orien talistas, volta ·se
15:1j
h covoçoes inéd itos do Doutor Man ue l Hel eno.
{541 V . CORRE IA : " EI Neo lít ico d e Pavio (Al en tejo·Por tugal )", Memorio nú mero 27 de lo Comisión de Invest igoc iones Pa leon to lógicos y Preh is t6r icos de lo
J~nto poro Ampl ioc'6n de Estud ios e Inves tigociones Cien tificas, Ma dr id , 1921 ,
pogs. :IS, 57, 62 e 70.
(55) EltcOYoÇoes do MojO( Alfonso Do Poço.
(56) G. e V. LEISNER : Op. Ct t. in noto I I, pogs. 169_170.
(57) Defe ndem 101 leorio J . Mortine:r. Santo-Olollo, G. E. Oo n'el, V . G. Chl! d e, C . F. C . Howkes, C. D. F« d , H.. J . Fleu re e H. J . E. Peoke.
(58) G. E. DAN IEL: " The d uol NOlure 0 1 lhe M~oli t hic Colonisolion of Pre.
hln«ic Europe", Proceedings o f lhe Prehistor ic Socie ly, Poper 1, Combridge, 194 1.
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ASPEcrOS DO NEOLIT1CO DE PORTUGAL
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'1"'11
a a tribuir nova mente ó Europa uma força criadora na evolução ar·
qui tectónico do Neolítica e Bronze inicial. Tem aumentado, nos
últimos a nos, o número de arqueólogas empenhadas em jus t ificar
o existência de uma ligação mais íntima entre a cultura megal ítico
e a Neolít ico europeu (59).
Volto -se em parte a teorias antigos; porém Leisner nlio acredita no prioridade do pequeno camoro poligonal como t ipo mais
an tigo, nem na sequência evolutiva do sepultura megalíti co paro
a de cúpu la . Defende uma evolução autactone do sepultura mega lítico em Por tugal, problema esse poro cu jo solução a s An tas de
Reguengos forneceram novos esclarecimentos: ta is como "em pri meiro lugar, o apareci men to de espólios neolí t icos en dólmenes de
corredor; em segundo lugar, a const rução de duas tholoi posteriormente a dólmenes de corredor, e, fi na lmente, o reconhecimen to de
duas correntes culturais diferentes nos antas : uma delas mos trando uma evoluçii.o sobre bases neolít icos, o ou tro revelando tado a
material eneolítico" (Bronze I).
No decurso destas invest igações foram observados determina dos factos que estabe lecera m uma íntimo re laçtla en tre os estra tos
neolíticos e o cultura megalítico de maneiro que jamais pode ser
defend ido o teoria de serem os pequenos dórmenes, sem corredor,
apenas formos degeneradas.
" Todos es tes factos permitem admitir a hipótese de que o pe·
quena dólmen em forma de galeria teria sido o t ipo mais antigo.
Pos to que ainda falte uma documentaç;10 in tegra l, já se nota,
também no ocidente da Península, uma evoluçtlo que, em todos os
períodos, conserva características do sepul tura de galeria. A conf irmaçfio des tas hi pó teses viria escla recer vários problemas" , Ex plicar-se -ia assim a evolução do técnico cons t rutivo das grandes
antas por tuguesas.
"Consequen teme nte, o cul tura das pequenas an tas poderia ser
equivalente à das sepulturas neo líticos do leste do Penínsu la e a
suo origem poderio caber numa das correntes mais antigas do neolitizoção do Península" (60); no entonto posterior ao estralo neo-
(591 G. e V. LEISNER : Op. ci t . in noto 11, pogs. \72 e \73 .
J . HAWKES: "Les monuments socres en Gronde-Bretogne", Revisto de Gu imo'''~,
LlX , 1-2, &ri...",,,...., 1919, póg . 120 e segs.
L. PER1COT GARCI A: "Lo Espana Primitivo", Barcelona, \950, pôg. 146.
(60) G. e V. LE ISNER : Op, cito in noto II, póg. 173 o 175.
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lítico de Muge, área donde provêm alguns machados ci líndricos
(61).
liA existência de sepulturas de espaço alongado, também em
Portugal, colocoria, numa época mais avançada, o divisão das formas arquitectónicos em sepulturas de corredor e sepulturas de galeria, A divulgação do primeiro destes ti pos pelos costos atlânticos
ocidentais" e do meridoo, "apenas se terio efectuado na segunda
época do evolução megalítico em Portuga l, época que corresponde
00 ibero-sohariono e aindo ao período do vaso companiforme" (62).
(61)
(62)
Museu de AntropOlogia da UniversIdade do Porto.
G. e V. LEISNER : Op. ci l. in noto 11, p6g. 175
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RUSSlLL. -N..olitin .... PO.IUIO(
LAM. I.
I .-Mp«to do comodo do Cobeço do Amoreiro (Muoel mos lrondo o recolho do
_
semi-eslérico.
1.-P0Y00d0 do Are'01 AII01 (Por tal . A loreiro de UITICI nobil oçoo jó comple tomen te
descober lO.
(FotOl Russelll
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